Portuscale Cruises declara insolvência

4
Um dos navios da frota da Portuscale atracado em Lisboa em 2014

A companhia portuguesa de cruzeiros Portuscale Cruises já não existe mais. Fundada em 2013, e com navios da antiga Classic International Cruises, a companhia deixou de operar em 2015. No começo deste ano, as sociedades comerciais que geriam os navios e a companhia, declararam insolvência após um investimento de mais de 90 milhões de euros.

A única companhia de cruzeiros portuguesa da atualidade, Portuscale Cruises, já não existe mais. Fundada em 2013, a companhia surgiu após a falência no ano anterior da Classic International Cruises (CIC), companhia de cruzeiros grega que tinha base em Portugal. Com a frota da antiga CIC indo a leilão, o empresário do setor imobiliário Rui Alegre viu uma oportunidade de negócio na área dos cruzeiros marítimos.

O Porto foi o primeiro a ser revitalizado, em 2013

Após adquirir toda a frota de cinco navios da companhia (com exceção de um dos navios, que acabou ficando com os antigos proprietários da CIC), o empresário português lançou a companhia, que pretendia revitalizar e operar os quatro navios em roteiros na Europa, principalmente na Europa, mas também em outras áreas que antes haviam sido mercados da Classic International (e da companhia em sua encarnação anterior, Arcalia Shipping), como o Brasil e a Austrália.

A grande estrela da frota era o Paquete Funchal, último navio da frota portuguesa, e que foi construído no começo dos anos 60. As outras embarcações Athena (de 1948), Princess Danae (de 1955) e Arion (de 1965) foram renomeadas em homenagem a localidades portuguesas, passando a chamarem-se, respectivamente, Azores, Lisboa e Porto.

Funchal em estaleiro

A recém formada companhia tratou de providenciar a modernização e o reparo dos navios, que não operavam há pelo menos um ano. O Funchal, em especial, estava imobilizado desde 2010, quando começou a ser restaurado pela Classic International. Rui Alegre e a Portuscale investiram mais de 90 milhões de euros na aquisição e reforma dos navios, que passaram a ter uma aparência tradicional, com casco escuro, e chaminé amarela.

Geridos por diferentes sociedades comerciais, os navios chegaram a ter planos traçados para sua nova operação. O Danae, renomeado Lisboa, operaria no mercado francês, com cruzeiros a partir de Marselha, enquanto o Funchal operaria no próprio mercado português, além de realizar fretes ocasionais e temporadas anuais na Suécia. Austrália, África e Brasil também chegaram a figurar nos planos do navio, esse último, em parceria com um operador brasileiro não relevado.

Azores

O Azores, por sua vez, navegaria no Norte Europeu, fretado ao operador alemão Ambiente. Ironicamente, o primeiro navio a ser revitalizado, o Porto, ex-Arion, nunca chegou a ter planos de uso concretos. Menor navio da frota, com capacidade para apenas 320 passageiros, deixou a doca-seca onde foi modernizado em Lisboa na metade de 2013, e permaneceu atracado em Lisboa até a insolvência de seu geridor, no começo desse ano, navegando apenas eventualmente para mudança de cais dentro do próprio porto de lisboeta.

Assim como os outros navios da frota, o navio encontra-se no momento à venda, esperando um comprador que possa voltar a operá-lo, assim como o Funchal. Diferentemente do Porto, no entanto, a estrela da frota chegou a operar sob a bandeira da Portuscale, realizando alguns cruzeiros voltados ao mercado português e também fretado para operadores franceses e suecos.

Ainda como Princess Danae, Lisboa entra em doca-seca

O Lisboa, ex-Princess Danae, assim como o Porto, não chegou a operar pela Portuscale. Último navio da frota a entrar em doca, teve suas obras de modernização suspensas em 2014, após a companhia alegar que o estado da embarcação era pior do que o esperado, o que faria com que a revitalização tivesse custo aumentado. Assim, a obra foi paralisada por tempo indeterminado. Após realizar reformas no navio em vários aspectos, a companhia acabou vendendo a embarcação com as alterações inacabadas para a sucata no ano passado.

Já o Azores, ex-Athena, acabou sendo exceção. Em 2014, o navio foi fretado para um operador alemão, que planejava operá-lo durante o ano em roteiros voltados ao público germânico. O operador, no entanto, cancelou o contrato ainda em 2014, citando baixa demanda pelo seu produto. Ainda assim, o navio não chegou a ficar inativo por muito tempo. Já em 2014, foi fretado novamente; dessa vez para a companhia inglesa Cruise & Maritime Voyages (CMV).

Com uma frota de navios mais clássicos, a CMV ainda hoje opera o Azores – renomeado esse ano Astoria. O navio encontra-se, no momento, subfretado a um operador francês, enquanto realiza cruzeiros pelo Mediterrâneo.

Navio de cruzeiro moderno passa pelo imobilizado Funchal
no rio Tejo, em Lisboa. 

No momento, uma pequena tripulação de segurança mantém Porto e Funchal abertos em um cais afastado do porto de Lisboa. A informação foi revelada recentemente pela SIC, TV portuguesa, que também revelou mais detalhes sobre a estrutura comercial da Portuscale.

A companhia tinha sua frota registrada em diferentes sociedades comercias, o que é pratica comum no mundo dos cruzeiros e evita que problemas com uma das embarcações possam prejudicar a operação do restante da frota. Ainda segundo a emissora portuguesa, todas as sociedades estão insolventes. Financeiramente, a Portuscale e as sociedades contaram com financiamentos do banco português Montepio Geral, que atualmente queixa-se do não pagamento dos créditos cedidos a Rui Alegre.

Azores, ainda com o logotipo da Portuscale na chaminé

A Pearl Cruises, responsável pelo Funchal, recebeu do banco cerca de 22 milhões de euros, enquanto a Coral Cruises, responsável pelo Porto, recebeu aproximadamente 16 milhões de euros. Já a Island Cruises, que gere o Azores/Astoria, recebeu mais de 40 milhões de euros.

As sociedades estavam registradas na zona franca da Madeira, na porção insular portuguesa, e tinham como gerente o próprio Rui Alegre. As três sociedades tem como acionista única a Cale SA, na qual Alegre é presidente do conselho de administração. Essa empresa, por sua vez, é detida pela Cale Finance, de Luxemburgo. A SIC ainda informa que não está claro quem administra ou detém essa última empresa, o que torna a propriedade dos navios também incerta.

Rui Alegre chegou a ser contato pela SIC, mas preferiu não se pronunciar. A emissora também questionou o banco Montepio, que disse não poder se pronunciar devido ao sigilo bancário.

(Clique nos links em azul para ler notícias da época dos anúncios destacados, com mais informações)
Texto (©) Copyright Daniel Capella (com informações de SIC).
Imagens (©) Copyright Daniel Capella e Rui Agostinho.
Compartilhar

4 Comentários

  1. Eu trabalhei na reparação deste navios, era algo surreal os valores de investimento era algo que chegava a ser estranho, não havia nada que não se fazia, havia dinheiro para tudo. Com isso acabei de ler toda essa notícia e fico a pensar por que e como esse tipo de coisa acontece

Deixe um comentário:

Por favor, escreva seu comentário!
Preencha seu nome aqui