Após anos de abandono, Melody é desmontado na Índia

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Melody

A carreira do Melody finalmente chegou ao seu capítulo final em maio. Após um longo período fora de serviço, o navio foi encalhado há dois meses, para que seu desmanche comece. Famoso no Brasil por sua passagem pela MSC Crociere, o navio estava abandonado há pelo menos 3 anos. 

Com o nome Qing, a embarcação estava atracada em Goa, na Índia, desde o começo de 2014, quando foi vendida pela MSC. Comprada pela empresa indiana Sahara India Pariwar aguardava por uma remodelação para se tornar acomodação flutuante.

MSC encontra comprador para o Melody

O plano dos indianos para o Melody nunca foi claro, mas incluía a conversão do navio, que poderia se tornar um hotel ou mesmo uma espécie de condomínio, com ‘apartamentos particulares’. Por razões, desconhecidas, no entanto, nada do planejado foi levado à cabo. 

Abandono e naufrágio

Parcialmente naufragado

Em vez disso, sem manutenção adequada, o navio ficou abandonado no estaleiro que deveria realizar a conversão. Acabou se deteriorando até naufragar parcialmente no próprio cais onde se encontrava atracado em 2016.

O evento aconteceu durante a estação de monções em junho daquele ano. O Qing chegou a ficar com mais de dois decks submersos e teve vazamento de combustível e óleo. 

Temendo um desastre ambiental ainda maior, a alta corte indiana ordenou a reflutuação do navio e sua posterior retirada. Nesse momento, a embarcação era alvo de uma briga judicial entre os trabalhadores do estaleiro onde o navio se encontrava e a administração do porto de Goa. 

Reflutuação e venda

A administração portuária venceu e o navio voltou a flutuar posteriormente, em junho de 2018. No total, 350 toneladas de óleo foram bombeadas para fora do navio, além de 20,000 toneladas de água do mar. 

Declarado sucata, foi leiloado e comprado por outra empresa indiana, a Balaji Fuels. Após vistoriar o casco e constatar que o navio tinha condições de seguir para desmanche, a empresa passou a buscar um sucateiro. 

Encontrou nos primeiros meses desse ano, quando o Qing foi rebocado para Alang, também na Índia. O navio foi encalhado na infame praia no final de maio, mas a demolição não começou imediatamente. Espera-se que os trabalhos estejam a todo vapor até o fim deste mês e sejam completados até o final do ano, quando o navio deve deixar de existir em definitivo. 

O Qing tem cerca de 35 mil toneladas, além de capacidade para até 1,600 passageiros. 

Construção na França e carreira nos EUA

Com as cores ad Home Lines em 1987

Construído em 1982 na França, o Qing ficou famoso na América do Sul durante sua passagem pela MSC – companhia pela qual mais operou em toda sua carreira. 

O navio foi encomendado pela Home Lines, uma tradicional empresa de navegação italiana que operava cruzeiros nos EUA. Com um contrato com o governo local, a empresa operava a, então concorrida, rota entre Nova Iorque e as Bermudas. 

Projetado para a rota, foi batizado Atlantic e entrou em serviço como o segundo navio construído para a companhia, após o Oceanic. Um terceiro navio chegou a ser construído, o Homeric, mas a Home Lines não resistiu à concorrência em seu mercado e acabou sendo vendida, com toda sua frota, para a então independente Holland America Line em 1988.  

A companhia, no entanto, optou por não operar o navio. Em vez disso, arranjou um contrato de leasing com a Premier Cruise Lines. Famosa por seus navios de casco vermelho, a empresa era então a companhia de cruzeiros oficial da Disney World Resorts e operava cruzeiros voltados ao público familiar a partir de Port Canaveral, no norte da Flórida. 

Renomeado Starship Atlantic, tinha seus cruzeiros vendidos em pacotes que incluíam também estadias em resorts de Orlando, além de ingressos para os parques da Disney na cidade. O contrato da Premier com a Disney, no entanto, foi encerrado em 1993, quando a empresa decidiu começar sua própria companhia.

Com o aumento da concorrência em Port Canaveral e a queda da demanda, a Premier devolveu o navio a seus proprietários em 1997. 

MSC e papel no Brasil

Melody
Já com as cores atuais da MSC

No mesmo ano, o então Starship Atlantic foi vendido para a MSC Crociere. A companhia de cruzeiro italiana havia acabado de ser formada com a reformulação da antiga StarLauro Cruises. 

Renomeado Melody, se juntou à frota da companhia que tinha, na época, dois navios dos anos 50 (o Symphony e o Monterey) e um dos anos 70 (o Rhapsody). Além de mais novo e moderno, era também significativamente maior que as outras embarcações da frota. 

Assim, foi não só o maior, como o flagship da frota até 2003, quando entrou em operação o MSC Lirica. No ano seguinte, a companhia foi novamente repaginada. Dessa vez, ganhou novo logotipo e cores, com as chaminés brancas sendo substituída pela azul escuro. Todos os navios da frota também passarão a ser tratados com o prefixo MSC.

O antigo Atlantic passou a ser MSC Melody para a companhia, mas nunca recebeu oficialmente o prefixo MSC. 

Estreou em 2003/2004 no Brasil, realizando roteiros a partir de Santos e Rio de Janeiro nos anos seguintes. Em 2009/2010 se despediu do Brasil, com uma inédita temporada no Nordeste. Na ocasião, o navio ficou baseado em Salvador, oferecendo roteiros pelas capitais da região. 

Um retorno chegou a ser anunciado para a estação seguinte, mas acabou não se concretizando

Em 2012, a MSC decidiu se desfazer do navio. Apesar de ter tirado-o de operação após o verão europeu daquele ano, não encontrou imediatamente um comprador interessado no Melody. Em vez disso, o navio seguiu atracado a espera de seu destino em Castellamare de Stabia, na Itália. 

A venda aconteceu apenas no começo de 2014, quando navegou para a Índia, sendo posteriormente renomeado Qing. 

Texto (©) Copyright Daniel Capella / Imagens (©) autores desconhecidos, Bart de Boer e João Abreu

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