Área do Canal, onde aproximadamente estão os destroços. 
A retirada dos restos do navio Ais Giorgis, submersos no canal de navegação do Porto de Santos há quase 40 anos, terá início na primeira quinzena do próximo mês. A ordem de serviço foi assinada na última quarta-feira pela Codesp. Os trabalhos serão realizados pela empresa Dratec Engenharia Ltda., vencedora da licitação promovida pela Docas. 

O contrato entre as partes foi firmado no último dia 1. O custo total da obra será de R$ 17,9 milhões, quantia a ser paga com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os trabalhos deverão ser concluídos no prazo de sete meses.

De acordo com o diretor da Dratec, Marcio Brando Batalha, a retirada do Ais Giorgis será feita com técnica proposta pela própria estatal e aprovada pelo órgão ambiental, nesse caso a Cetesb, ligada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

O processo será dividido em quatro fases: a retirada de resíduos armazenados na embarcação, o içamento do casco com um guindaste flutuante de alta capacidade, o encaminhamento do material para uma área cedida pela Docas, na Margem Esquerda (Guarujá) do complexo, e a divisão do casco em partes menores, que serão enviadas a usinas em Cubatão. Parte dos trabalhos será executada por mergulhadores.

“Essas etapas serão aplicadas a diferentes partes do navio, por isso são necessários vários meses para que o serviço seja finalizado”, destacou Batalha, que está providenciando a entrega, para a Codesp, de documentos relacionados à qualidade e aos cuidados com saúde, meio ambiente e segurança a serem tomados durante o projeto. “Temos que apresentar um plano de contingência (para a retirada do navio)”, completou.

Atualmente, os restos da embarcação estão submersos próximos à Margem Esquerda, na direção do Armazém 20, onde funciona o Terminal Açucareiro Copersucar. O trecho é delimitado por boias de sinalização, para indicar por onde os navios podem trafegar.

Segundo a Codesp, ainda não foi definido se haverá necessidadede paralisação da navegação no canal durante a execução do serviço. A decisão será tomada pela companhia no decorrer dos trabalhos.

A retirada do que restou do Ais Giorgis é considerada fundamental para melhorar as condições de segurança à navegação e, sobretudo, viabilizar a dragagem de aprofundamento para 15 metros e o alargamento para 220 metros da via navegável do canal. A dragagem está prevista para ser encerrada no final do próximo mês.

Caso Ais Giorgis: entenda melhor a história:

Para isso, fornecemos um texto publicado em 1993 no Jornal A Tribuna, de Santos, extraído do Portal Novo Milênio (um ótimo site santista, com várias informações sobre a história da cidade, e da região, vale a visita).

Incêndio a bordo foi “noite de horrores”
No dia 8 de janeiro de 1974, o novo comandante da Capitania dos Portos do Estado de São Paulo, Nuno Marques Pillar, que substituía o capitão Valentim Pereira Ferreira, não poderia imaginar que seu primeiro dia em Santos seria marcado por uma autêntica “noite de horrores”. Era o incêndio do cargueiro gregoAis Giorgis, seguido de violentas explosões, que sacudiram a Cidade e espalharam pânico.

O horror começou, na verdade, na tarde do dia 8, quando os portuários constataram que a carga do Ais Giorgis “ardia na mão dos estivadores, fumegando no contato entre as várias qualidades de produtos químicos, transportados em um único porão”.

Foi justamente a combustão espontânea do nitrato de sódio, embarcado em vagão junto ao costado do navio, o estopim para que as horas seguintes ficassem marcadas na lembrança de todos os que viveram aquela noite.

Os destroços do navio, em foto do final da década de 1980/90 (foto do arquivo do editor de 'Novo Milênio')
O começo do fogo – Pelos registros da Companhia Docas de Santos (CDS), conce- ssionária particular que adminis- trava o porto, eram 21h34 quando o fogo começou na galera (vagão aberto) nº 40 da empresa, destruindo-a parcialmente.

Os bombeiros dominaram o fogo, mas não impediram que o casco do navio se aquecesse, incendiando os produtos químicos que estavam nos porões.

Meia hora depois, nada mais podia ser feito pelo cargueiro. As chamas passaram ao restante da carga. E, para salvar as instalações do porto, o navio, que estava atracado no cais dos armazéns 30 e 31, foi rebocado para o meio do estuário.

Vítima fatal – Dois rebocadores lançaram seus cabos, enquanto todos abandonavam a embarcação em chamas. Menos Marcelo Martins Vicente, auxiliar de segurança da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da CDS. Ele tentou deixar o navio pendurado em um cabo dos rebocadores, mas não conseguiu completar a travessia. Caiu e desapareceu na água em chamas. Seu corpo só foi encontrado na manhã do dia seguinte.

O Ais Giorgis queimou durante três dias e três noites. Considerado perdido, o armador Shipmeyr foi ressarcido de suas perdas pela seguradora, que passou a ser dona dos destroços.

A seguradora promoveu um leilão e os arrematantes foram José dos Ramos Afonso e Aquiles Sauli Macsolette, substituídos depois por Idivenes Festa.

Em 1978, os novos donos tiraram os motores e todos os metais preciosos da embarcação. Em seguida, desencalharam o navio e o rebocaram para um estaleiro de Vicente de Carvalho, onde completariam o desmonte.

Os destroços do navio, em foto do final da década de 1980/90 (foto do arquivo do editor de 'Novo Milênio')Vendaval – Mas a odisséia do cargueiro sinistrado não terminava aí. Na mesma noite em que foi desenca- lhado, um vendaval açoitou a região, arrebentou os cabos que o prendiam e arrastou o Ais Giorgis para o meio do estuário, desta vez na altura do cais do Armazém 16 para quem o vê de Santos e na estação de barcas de Vicente de Carvalho para os observadores de Guarujá.

O navio ficou junto ao canal de navegação apenas com a proa (frente) para fora da água, constituindo-se sério risco para a passagem de outros navios.

Estudos contratados pela Codesp, que ficou com a responsabilidade de resgatar a embarcação, mostraram que o Ais Giorgis contém, ainda, toneladas de produtos químicos nos porões. O seu resgate exigirá, portanto, cuidados especiais, tanto para evitar novos acidentes pessoais, como para impedir a poluição do estuário.


(*) Publicado em 7 de janeiro de 1993 no caderno Porto & Mar do jornal santista A Tribuna, em matéria sobre os então completados 19 anos do sinistro.

Texto (©) Copyright A Tribuna e Novo Milênio.
Imagens (©) Copyright Daniel Capella e Novo Milênio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *