Quatorze anos depois de partir, navio é lembrado como ícone da navegação.

O Eugenio C, em imagem do cartão postal oficial da companhia italiana
Linea C, com seus 188 metros de comprimento e peso de 30 mil toneladas.
 O Eugenio C. foi um dos navios mais queridos por todos os que nele viajaram. E também por muita gente que o tem como ícone de um período da navegação transatlântica. Ao contrário de outros navios, teve vida longa – 40 anos percorrendo os mares com seu nome original e com outros três, que se alternaram até o corte, num estaleiro de Alang, na Índia. Ainda houve uma tentativa de manter o navio inteiro como atrativo no porto de Gênova, na Itália. Mas o projeto não deu certo.
Lançado ao mar em novembro de 1964, o Eugenio C fez a viagem inaugural com membros da família Costa, italianos donos da companhia Linea C, em agosto de 1966. Durante 20 anos percorreu a rota entre Europa e América do Sul. Esteve dezenas de vezes em Santos. Em 1986 acrescentou o Costa ao nome. E permaneceu como Eugenio Costa durante 10 anos, até a viagem final em 1996 pela companhia italiana.
O Eugenio C. foi um navio símbolo de sua época, e a representação material da itália no Brasil.
Em 1997 foi vendido para a armadora britânica Lowline e rebatizado como Edinburgh Castle. Em 1999, comprado pela Premier Cruise, teve um final infeliz: o casco foi pintado de vermelho e ganhou nome polêmico: The Big Red Boat II. Com a falência da empresa em 2000 ficou parado em Freeport, nas Bahamas. O navio deteriorou de vez, perdeu o mobiliário e acabou vendido para sucata no final de 2005. Em 2006 começou a ser cortado em pedaços na Índia.
O Eugenio C deixou saudades em muitos de seus fãs de Santos. Ele era uma dessas lendas que se tornou realidade e como tal continua lembrado.
Para alguns desses fãs do navio, como Emerson Franco Rocha da Silva, há algo mágico em estar em um navio. “Apesar de todo luxo, conforto e beleza dos navios novos, ainda não encontrei nem fiz uma viagem que possa comparar com as do Eugenio”. E complementa: “A magia e o encanto, que envolviam as viagens no Eugenio, eram em parte por esta energia que era dele, pelo ar que respirávamos ali dentro”.
Eugenio Costa passando pela Ponta da Praia, na altura do Aquário Municipal, na década de 90.
Emerson teve o privilégio de “conhecer” o Eugenio mesmo antes de nascer. É que sua mãe, Elizabeth, grávida dele, sempre ia ver o navio no porto para lembrar de uma viagem da família para Portugal em 1967. “Quando eu era pequeno me apaixonei pelo navio e tinha o sonho de viajar. Fui dezenas de vezes a bordo, mas a primeira viagem só se realizou em 1994 para a Argentina, viagem maravilhosa no meu navio favorito. Houve outra em 1995 e finalmente a despedida em 1996, em que fiz Santos-Rio apenas para me despedir do meu velho amigo, que apesar de estar com 30 anos de navegação e precisando de alguma reforma ainda era imponente”.
Hoje, Emerson mantém no Orkut a comunidade chamada “Eugenio C”, com histórico do navio e comentários de viagens trocados por 252 pessoas que a freqüentam.
O Eugenio C. foi o último transatlântico clássico construído na Itália,
o navio foi muito apreciado por suas linhas clássicas.
O despachante aduaneiro Laire José Giraud, colecionador de cartões-postais de navios, lembra de seu primeiro contato visual com o Eugenio C numa noite do verão de 1967. “Estava com amigos no restaurante do clube Vasco da Gama quando repentinamente notei que um grande navio, todo iluminado, se aproximava da antiga ponte dos práticos. Era o maravilhoso Eugenio C, com suas linhas ultramodernas para a época. O navio tinha duas chaminés paralelas, que o diferenciava dos demais”. Laire diz que na época pensou que um dia viajaria no navio, mas isso não aconteceu.
O administrador Paulo Silvares teve o privilégio de realizar uma grande viagem de 35 dias no Eugenio C. Foi em 1972, saindo de Santos com destino a Miami, passando por Venezuela, México e Caribe. “Viajar no Eugenio C era o sonho de consumo de todo jovem, pois era muito badalado e tinha apresentações de música, shows incríveis e ainda possibilitava conhecer a Disney!”
Eugenio Costa atracado no Píer Mauá, no Rio de Janeiro.
Paulo recorda que a viagem foi dividida em classes A e turística, e quem era de uma não entrava na outra. “Impressionaram a organização dos serviços a bordo e a fartura de comida (já eram seis refeições). O navio era grande e tinha 1.500 passageiros. Uma cidade a bordo! O que mais me marcou foi que na península de Yucatã (México) descemos de botes, mergulhamos no mar mais azul que eu já vi e depois comemos o peixe mais apimentado da minha vida. Foi um cruzeiro incrível!”
O jornalista santista Sérgio de Oliveira, que trabalha na Alemanha, visitou o Eugenio C em 1980. Seu primeiro contato direto com o navio deixou marcas: “Mais que um navio ele era um fascínio e uma lenda”, diz. ”O Eugenio tinha um certo aroma no ar, uma mistura de perfume e tabaco com algo mais que permeava aquela atmosfera. Da tonalidade da madeira que compunha o corrimão de cada classe, aos pisos e a luz natural o navio inspirava uma certa solenidade e ao mesmo tempo convidava ao relaxamento e ao bom viver”.
Eugenio em seus últimos dias, como big Red Boat II. Ao fundo é possível ver o Rotterdam na época Rembrandt, que também já fez temporadas no Brasil.
Ele descreve o navio em detalhes e os tem na cabeça e em folhetos que guardou. ”O Eugenio era um palácio moderno. Sem ouro e cristal à mostra, mas com o bom tom do design italiano conferindo-lhe formas e decorações que o transformavam em algo além de um grande hotel”.
No Eugenio cada poltrona e sofá foi desenhado por Nino Zoncada. “Era símbolo de status e bom gosto, transporte de nobreza e imigrantes de sorte, modelo do design italiano e o mais veloz em mares tropicais. Infelizmente não teve a sorte de encontrar quem quisesse preservá-lo”. Em 1998 Sérgio passou 14 dias a bordo do então Edinburgh Castle. Muito do que era o Eugenio já havia desaparecido.
Big Red Boat II a caminho de Alang, seu destino final. 
O jornalista conclui que o que mais o agradava no Eugenio era vê-lo passar. ”Me entristece saber que isso não será mais possivel. Nessa época em que tantos navios de cruzeiro se parecem, faz falta um Eugenio, navio de linha, de desenho único e sucesso ímpar ”. A sua observação, com certeza, é compartilhada por muitos fãs.

Imagens (©) Copyright Jornal da Orla (primeira), Autores dos Cartões Postais extraídos do site SimplonPostacards e Luís Miguel Correia (última).
Texto (©) Copyright José Carlos Silvares (Jornal da Orla).

19 Comentários

  1. Meu primeiro contacto com esta bela nave, Eugênio C, foi em 1974, eu e minha mulher Milena. Eramos jovens, eu com 25 anos e ela com 21, recém-casados e a viajem de Santos a Lisboa. Foram dez dias de muito divertimento, de grande luxo, pois viajávamos na classe A, com camas baixas, café servido no camarote, etc… Festas diariamente, de manhã, à noite por pouco não virávamos as vinte e quatro horas. Em fim…! Saudades de ti Belo Navio Eugênio C.
    OS. Anos depois, vindo da Europa em outro navio, em alto mar, passa por nós, com sua bela proa e em grande velocidade o Belo Eugênio C.

    1. Conheci o Eugênio C no ano seguinte à sua experiencia, em 1975, quando viajei com minha família entre Rio e Lisboa. A viagem durava 7 dias. Não viajamos a turismo mas sim numa mudança para Portugal, decidida pelo meus pais que eram portugueses. Infelizmente as coisa não correram tão bem como esperado pelos planos do meu pai e ele resolveu voltar ao Brasil 6 meses depois. Então, foram duas viagens no Eugênio C, no mesmo ano. Tenho lembranças maravilhosas desse navio. Vou publicar um artigo qualquer hora dessas.

  2. Eu (com 6 anos na altura), minha irmã e meus pais também fizemos esse itinerário (Santos-Lisboa) só que no ano anterior, 1973. Na volta para o Brasil (já em 1974), o navio Eugénio Costa enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Sacudiu, balançou muito…lembro-me até hoje daquela noite de mar revolto. Estávamos todos com imenso medo de um naufrágio, mas graças a Deus, o navio Eugénio Costa nos levou ao seu destino e ao amanhecer já estávamos perto de terra. Fiquei triste ao ler hoje que o navio já não existe mais e que acabou assim…deteriorado, descuidado…que pena!!!

    1. Irene, eu também viajei no Eugênio C em 1973. Tinha 14 anos.
      Embarcamos no dia 11 de maio de 1973 em Santos e como varias pessoas, os meus pais, portugueses quizeram voltar para Portugal.

      Eu e minha irmã fizemos muitos amigos brasileiros e argentinos.
      Sera que foi a mesma viagem que você?
      Abraços

  3. em maio de 1974 viajei no Eugenio C, partindo de Santos Rumo a Italia, Napoles. Que viagem incrível. Tinha 14 anos na epoca. Meus pais decidiram ir para Itália para ficar com os parentes da minha mãe por 6 meses. Fomos e retornamos de Eugenio C. Meu pai inclusive levou o carro, pois ele era deficiente e o carro era modificado para seu uso. Lembro da cabine que era um charme, lembro do café da manhã, dos almoços, dos chás da tarde, do jantar, do cinema, das gincanas, da passagem pela linha do equador onde faziam uma grande folia na beira da piscina. Foram quatorze dias de diversão, muitos amigos. Depois de tanto dias só vendo água, chegar em Portugal foi emocionante. Viagem inesquecível. Navio inesquecível. Elegante, charmoso, e tinha o chefe dos camareiros que nós tratava como suas netas .. pena não lembrar o nome dele. Lembro até hoje do cheiro daquele navio, da primeira entrada … As vezes entro em alguns lugares que tem o mesmo cheiro e me remeto instantaneamente para o navio.. Agradeço infinitamente aos meus pais por essa viagem .. e
    Viva Eugenio C !!!!!!!!!!!

  4. Viagei do Rio para Lisboa em 1977 (14 a 22 de Março). Tinha 10 anos e vim para Portugal com a minha mãe e o meu irmão de 15 anos. Fiquei emocionada de ler estas histórias sobre o Eugénio C, deixou-me recordações muito agradáveis, as festas, os restaurantes, a piscina, as pessoas que conhecemos durante a viajem. Grande navio que recordamos como se fosse alguém muito querido.

  5. Fiz a minha 1°viagem no Eugénio C em 1970, Rio-Lisboa. Voltei ao Rio no Enrico C. A última fiz em 1980 Rio-Lisboa. Fiquei com pena de saber que já não existe mais! Foi magnífico viajar nele…saudades!

  6. Conheci o Eugênio C em 1975, quando viajei com minha família entre Rio e Lisboa. Eu tinha 14 anos então.
    A viagem em cada trecho durava 7 dias então.
    Nossa viagem não foi turística mas sim uma mudança para Portugal, decidida pelo meus pais que eram portugueses.
    Infelizmente as coisas não correram como esperado pelos planos do meu pai e ele resolveu voltar ao Brasil 6 meses depois. Assim, foram duas viagens no Eugênio C, no mesmo ano.
    Tenho lembranças maravilhosas desse navio e uma foto tirada durante um exercício de abandono do navio que todos os passageiros eram obrigado a realizar, ficando em formação num local pré-definido.
    Vou publicar um artigo qualquer hora dessas.

  7. viaje na primera clase desde Buenos Aires hasta Genova estava com 18 anõs y mi familia pago mi mpaasage en el apartamento Santa Margarita fue un sueño llegar al puerto e ver ese palacio flutuanteal entrar descubri que era el pasajero mas joven de esa clase.nunca olvido las cenas diversiones la pisina estoy viendo todo.Majico.

  8. Meus pais e nós, 7 filhos, fomos a Disney em 1974, em uma viagem mágica no Eugênio C. Infelizmente os discos das músicas tocadas e cantadas durante as várias apresentações, desapareceram. E não consigo encontrar, pelo menos para gravar.

  9. Sou Jefferson Carvalho e viajei com minha familia em 1975 e 1977 para passar o Natal em alto mar, saindo de Santos, indo na primeira viagem para Buenos Aires e Montevideo, e na segunda viagem Montevideo e Buenos Aires. O maior balanço do navio ficava na passagem pelo estado de Santa Catarina, onde balançava muito. No segundo ano que fomos, ao tentar sair de Santos, eu estava no local da cena, a corda que eles jogavam para segurar no cais, aquelas bem grossas, ao tirá-la, a mesma caiu no cais, como de costume até ser recolhida, mas dessa vez ela se enroscou nas hélices do navio e eu acompanhei todo esse desenrolar. Por isso saimos com atraso, sendo assim, conversando com uma pessoa do navio, precisaram desligar os estabilizadores, por isso, na viagem balançou bastante. Na volta, no ultimo dia, na madrugada, o navio abalroou em alguma pedra, e o mesmo ao chegar em Santos estava chegando de lado, talvez entre 10 e 20 graus, fazendo com que a gente andasse de lado. Tambem teve um pequeno incendio na cozinha, mas nada que tirasse a nossa alegria em ter viajado nessa lenda. Tambem me deixa aquele cheiro do navio que é inesquecível. E por último aos saudosistas, tenho uma fita cacete que comprei na boate, com uma música que na época foi muito tocada, Era do grupo Café & Creme, um Pout Pourri dos Beatles, onde o genio do DJ, em uma musica de 8 minutos aproximadamente, consguiu gravar o começo da metade da musica, mixando o final com o cmeço da música, invertendo a mesma, tambem tinha a musica La Vie En Rose com Grace Jones. Desculpe se me estendi muito, mas precisava escrever e deixar registrado.

  10. Eu e minha mãe fizemos 5 travessias Brasil/Europa (ida e volta) com o maravilhoso Eugênio “C” nos anos ‘70! Íamos passar o Natal com minha avó e outros parentes! Foram viagens inesquecíveis no navio mais lindo e mais charmoso da época!
    Aqueles dias nunca vão sair da minha memória e do meu coração! ❤️

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