Uma proposta elaborada pelo escritório de arquitetura espanhol Alonso-Riera-Balaguer e pelo brasileiro Blac, em parceria com a agência pública de planejamento estratégico Barcelona Regional (BR), pode abrir novas perspectivas para o projeto de um novo píer na Zona Portuária do Rio. Preocupado principalmente com a integração do terminal a uma região da cidade que está passando por um amplo processo de revitalização, o grupo está sugerindo um modelo alternativo: em vez do Y (veja mais), a ideia é o formato em E, reposicionado de modo a não agredir a nova paisagem local.
“Todas as possibilidades que tinham sido pensadas anteriormente para o píer do Porto do Rio tinham um problema em comum, que é como esse equipamento iria se comunicar com o território. O píer não deve servir só para melhorar o funcionamento do Porto, mas ajudar a recuperar toda a região para uso público” comenta o arquiteto espanhol Ignasi Riera, um dos responsáveis pelo projeto.
Em vez de ficar situado entre os armazéns 2 e 3, o píer em E começaria na altura da metade do armazém 3 e iria até a metade do 6. Uma das grandes inovações seria um espaço de 120 metros de largura e 500 metros de comprimento, entre o passeio público e o terminal onde irão atracar os navios, que poderá ser utilizado como uma marina esportiva ou para outras atividades aquáticas que deem uma nova vida ao local.
Estacionamento para ônibus
Outra vantagem do novo píer seria a possibilidade de levar ônibus diretamente ao terminal onde os passageiros desembarcarão, evitando longas filas de coletivos atrapalhando o trânsito nos arredores do Cais do Porto. Os veículos teriam espaço para uma área de estacionamento nas linhas paralelas do desenho em E. A proposta ainda prevê a criação de um grande parque linear desde a Praça Mauá até o terminal de cruzeiros, que reduza a carência de praças e espaços públicos na região.
O escritório Alonso-Riera-Balaguer participou de diversas iniciativas do projeto olímpico de Barcelona, que foi fundamental para a revitalização da cidade. No Rio, já são os responsáveis pela concepção da futura Vila de Mídia, que está em construção também na Zona Portuária. O arquiteto Ignasi Riera destaca ainda a importância da participação da agência BR na proposta do novo píer, por sua larga experiência no planejamento da cidade espanhola.
— A agência é responsável por longos planejamentos, de 30 anos. O mais importante de experiências como a de Barcelona e, agora, a da Zona Portuária do Rio é poder voltar a ter atividades relevantes em áreas que antes estavam degradadas. Dar a essas áreas um novo uso, novas atividades econômicas e sociais — afirma Riera.
Entidades contra projeto em Y
A proposta que vem sendo trabalhada atualmente pela Companhia Docas, do píer em Y, projetado para ser construído entre os armazéns 2 e 3, passou a chamar a atenção após simulações mostrarem o seu impacto na paisagem com os navios ancorados, que encobririam, inclusive, o Museu do Amanhã, do arquiteto Santiago Calatrava, um dos marcos do processo de revitalização da Zona Portuária.
Entre as entidades cujos representantes já se manifestaram contra o píer em Y estão o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura. A Docas já realizou uma licitação para a construção do novo terminal, vencida pelo consórcio Rio Y Mar, que se habilitou para executar as obras estimadas em mais de R$ 250 milhões. As obras, no entanto, ainda não começaram.
O projeto em Y chegou a ser barrado na Justiça em dezembro do ano passado, graças a uma liminar concedida pelo juiz da 15ª Vara de Fazenda Pública, João Felipe Nunes Ferreira Mourão, em ação popular movida pela deputada estadual Aspásia Camargo (PV). A parlamentar alega possíveis danos ambientais e paisagísticos que a iniciativa poderá provocar na Zona Portuária da cidade. A decisão, no entanto, foi revertida em segunda instância pelo desembargador Wagner Cinelli de Paula Freitas, da 17ª Câmara Cível do TJ. O mérito ainda não foi julgado.