Período sombrio para os cruzeiros no Brasil
Costa e MSC continuam como principais atuantes no país

Em um cenário de crise política, crise econômica (com alta histórica do dólar), e ascendência de mercados concorrentes, como o australiano e chinês, o que podemos esperar da temporada de cruzeiros no Brasil? Confira neste especial o que já foi anunciado, o que ainda deve ser anunciado, e o que esperar da temporada 2016/2017 no Brasil. 


MSC – Após aumento na oferta 2015/16, retorno ao patamar de temporadas anteriores em 2016/2017 – e sem estreias

MSC Preziosa: terceira temporada brasileira em 2016/2017
Depois de aumentar a oferta na América do Sul para cinco navios em 2015/2016, a MSC voltará à patamares anteriores em 2016/2017. Aumentando seu leque de destinos ao redor do mundo, a companhia italiana irá retirar um navio do mercado brasileiro (e europeu), e dedicá-lo (em tempo integral) à China. Paralelamente, a empresa pretende ampliar sua participação nos EUA, e afirmar posição de líder da Europa. Iniciando também operações a partir da ilha de Cuba, a companhia decidiu não designar um substituto para a América do Sul, e terá, assim, quatro navios na região em 2016/2017. 
A temporada será semelhante à 2014/2015, quando a companhia operou MSC Preziosa, MSC Poesia, MSC Lirica e MSC Magnifica nos mercados brasileiro e argentino. Os dois primeiros ficaram baseados em Santos, realizando roteiros para o Nordeste e Prata, respectivamente. Já o Lirica, ficou dedicado ao porto do Rio de Janeiro, com roteiros variados, e o Magnifica realizou os embarques em Buenos Aires com destino ao Brasil. O diferencial para 2016/2017 são os navios, o Preziosa volta a fazer Nordeste a partir de Santos, enquanto o Poesia é substituído por seu gêmeo mais velho Musica, que assume os roteiros ao prata a partir do litoral paulista. Já o Lirica dará lugar ao ampliado MSC Armonia, que faz Prata e Nordeste a partir do Rio de Janeiro. O mercado argentino receberá uma estréia, o MSC Orchestra, que realiza sua primeira temporada no Prata. 
Assim, a companhia deixa de realizar mini-cruzeiros durante toda a temporada como em 2015/2016 (e anteriormente, em 2010/2011). Também notável é a ausência de estreias; ou seja, a vinda de navios que nunca antes realizaram temporadas brasileiras. A última vez que isso ocorreu foi na temporada 2011/2012 quando a companhia também reduziu a presença no Brasil e praticamente repetiu – em menor escala – a estação anterior. A ausência de estreias em 2016/2017 devê-se, principalmente ao fato de que todos os navios da frota já terão passado pelo Brasil no final de 2016, e, com exceção do Divina, já terão realizado ao menos uma temporada nacional. A MSC só inaugurará novos navios a partir de 2017.

Recentemente a companhia falou em aumentar a capacidade de leitos em Cuba, com um segundo navio da classe Lirica, o que poderia significar mais uma perda para o mercado brasileiro.

ATUALIZAÇÃO: Pouco depois da publicação dessa matéria, a MSC comunicou o deslocamento de um segundo navio da classe Lirica para Cuba, o MSC Armonia. Assim, o Brasil perdeu outra embarcação, e terá só dois navios na temporada 2016/2017. Leia mais sobre a mudança neste link

Costa – Repetição de 2015/2016? 

O Costa Pacifica deve voltar à América do Sul em 2016/2017
A Costa ainda não possui plano definitivo para a temporada sul-americana 2016/2017. Atualmente, a companhia prevê oficialmente uma temporada idêntica àquela planejada para 2015/2016: Costa Pacifica dedicado ao mercado brasileiro com embarques em Santos e roteiros variados, e Costa Mediterranea dedicado ao mercado argentino com embarques em Buenos Aires e também no Rio de Janeiro. Assim como ocorreu em 2015/2016, no entanto, é possível que os planos ainda mudem; a Costa possui histórico de rever temporadas e mudar roteiros, por vezes, mesmo em cima da hora. 
Há indícios de que a companhia possa, assim como realizou em 2015/2016, substituir o Mediterranea pelo Costa Fascinosa nos roteiros com embarque em Buenos Aires e Rio de Janeiro. Não está descartada nem mesmo uma temporada de três navios, com Fascinosa, Pacifica e Mediterranea. Essa última possibilidade, no entanto, é remota, levando-se em consideração o atual estado do mercado e da economia de Brasil e Argentina. Nos cenários que possuem o Fascinosa e o Pacifica na América do Sul, a companhia manteria a oferta em um patamar maior ou semelhante ao da temporada anterior. Caso opte por manter o Mediterranea junto com o Pacifica, haverá diminuição na oferta, já que o Mediterranea é significantemente menor que o Fascinosa. 
A tradicional chaminé gialla da Costa
Não está descartada também uma mudança total na temporada 2016/2017 da companhia ao redor do mundo – o que poderia mudar os navios responsáveis pelos roteiros no Brasil. O certo é que aqueles que estão na Ásia (Serena, Fortuna, Atlantica e Victoria), permanecerão nessa região. Desde 2014/2015 a Costa vem operando apenas duas embarcações na América do Sul: um dedicado ao mercado brasileiro com embarque majoritário em Santos (mas também é possível embarcar em Montevideo e Buenos Aires em algumas viagens) e um dedicado ao mercado argentino, com embarque majoritário em Buenos Aires (e opção de embarque no Rio de Janeiro e em Montevideo na maioria das saídas). Antes, a companhia chegou a trazer à região quatro navios de mais de 100,000 toneladas em apenas uma temporada, somados a outros navios menores de suas marcas secundárias (AIDA e Ibero). A mudança se deve principalmente a políticas de incremento no lucro implantadas em todo o grupo Carnival, do qual a Costa é parte. 

Norwegian Cruise Line – Entrando no mercado brasileiro ou utilizando o Brasil como destino? 

O Norwegian Sun será o primeiro navio da NCL a participar de
uma temporada brasileira
A Norwegian Cruise Line (NCL) anunciou há algum tempo que participar de uma temporada brasileira pela primeira vez em 2016/2017. Terceira maior companhia do mundo, a NCL foi fundada na segunda metade dos anos 60, e atua tradicionalmente nos EUA e Caribe. Há cerca de quinze anos, no entanto, com uma frota crescente companhia expandiu seus destinos, e chegou a oferecer roteiros na América do Sul, além de ter criado presença forte na Europa. Diversos fatores, no entanto, levaram a companhia à ruína financeira. Seriamente ameaçada, a empresa teve de se desfazer de seus navios mais antigos e dispendiosos, e refocou seu negócio no Caribe, com navios maiores e mais modernos. A última temporada sul-americana, com os mesmos roteiros pela Patagônia e Terra do Fogo realizados desde 1998, aconteceu em 2009/2010. 
Recuperada, e novamente com uma frota numerosa, a Norwegian anunciou um retorno à América do Sul em 2015/2016, com o Norwegian Sun. Os roteiros mais uma vez partem apenas de Buenos Aires e Valparaíso, e são fortemente dedicados ao mercado norte-americano, além de não passarem pelo Brasil. Para 2016/2017, no entanto, a companhia decidiu diversificar a presença sul-americana, e acrescentou novos roteiros, entre eles, alguns com embarque ou desembarque no Rio de Janeiro. Não há, no entanto, nenhum roteiro que inclua ida e volta ao Brasil e, apesar de escalar em Santos, o Norwegian Sun aparentemente não realizará operação de embarque no terminal de cruzeiros mais movimentado do país. 
A NCL inaugurou um escritório em São Paulo no começo deste ano, absorvendo sua antiga representante, a Firstar. Anterior ao anúncio da vinda do Sun ao Brasil, a companhia afirmou ter como intenção com a instalação na capital paulista levar passageiros brasileiros para os seus roteiros ao redor do mundo. Com o navio no Brasil, a intenção parece ser semelhante, mas invertida: trazer os passageiros estrangeiros não só à Argentina, Chile e Uruguai, mas também à costa brasileira. A companhia tem investido em publicidade no mercado brasileiro, comemorado a vinda ao país e certamente estará feliz em receber o maior número possível de brasileiros a bordo, mas o foco da operação, ao menos no momento, não parece ser o mercado regional doméstico, como ocorre na operação de companhias como a MSC, Costa e Royal Caribbean. 

Pullmantur – Incógnita: terão o prejuízo causado à sua matriz e a saída do Empress da frota prejudicado a operação no Brasil?

Passando por um período complicado, a Pullmantur causou neste ano uma baixa contábil de 500 milhões de dólares para a Royal Caribbean Cruises, sua matriz, segundo o balanço do terceiro trimestre da empresa. Por este motivo, a companhia espanhola deixou de receber um novo navio em 2016, como previsto anteriormente. E não só: ainda irá perder uma embarcação de sua frota atual, o Empress, que retornará à frota da Royal Caribbean, de onde veio em 2008, já em fevereiro de 2016. Assim, a frota da Pullmantur se resumirá na temporada 2016/2017 a quatro navios, dois deles operados pela subsidiária francesa Croisières de France; ou seja, a frota principal da Pullmantur contará apenas com duas embarcações, os gêmeos Sovereign e Monarch. 
A companhia ainda não revelou seus planos para a próxima temporada, tendo anunciado apenas recentemente os roteiros para a temporada 2016, que terá, pela primeira vez, o Monarch na Europa, substituindo o Empress. Assim, é natural que o Brasil tenha mais uma vez sua oferta reduzida – em seu ápice, a Pullmantur chegou a ter quatro navios dedicados ao mercado brasileiro – e receba apenas um navio da empresa. Também não está descartada, no entanto, uma temporada de dois navios, que poderia contar tanto com os navios da frota da Pullmantur quanto com os da CDF (Zenith e Horizon), que podem ser facilmente convertidos pela companhia para uma operação brasileira. Nem mesmo uma possível saída do Brasil pode ser desconsiderada. 
A definição parece passar, não só pelo mercado e a economia brasileira, mas também outros fatores, até externos, como um possível maior interesse em operar no Sul do Caribe, ou uma saída da Royal Caribbean International do mercado brasileiro. Uma pista para os planos da Pullmantur talvez seja a declaração recente que a companhia fez de que, após anos focando na América Latina (na qual inclui o Brasil), irá voltar novamente suas atenções à Europa, dando prioridade ao mercado francês e ao espanhol. Mercados estes que tem costume de realizar fly-cruises no Caribe na época da temporada brasileira. O anúncio oficial de 2016/2017 para a Pullmantur deve vir em meados de dezembro. 

Royal Caribbean – Despedida, “até logo” ou pseudo-novidade? 

Após trazer o Rhapsody of the Seas, como novidade ao Brasil em 2015/2016, a Royal Caribbean International (RCI) não deve ter um navio no país em 2016/2017. Atualmente, toda a frota da companhia norte-americana já tem roteiros definidos, e nenhum deles passa pela América do Sul. O Rhapsody of the Seas, que estará na região nessa temporada, será dedicado a cruzeiros a partir do porto de Tampa, na Flórida, substituindo o Vision of the Seas, que estará nos Emirados Árabes. Lá, o Vision substitui o Splendour of the Seas, vendido pela companhia em março deste ano, e que deixa a frota no próximo mês de abril. 
Inicialmente, a Royal Caribbean tinha anunciado que o Rhapsody substituiria o Enchantment of the Seas, realizando mini-cruzeiros a partir de Port Canaveral, na Flórida. O Enchantment seria deslocado para Miami, onde assumiria os roteiros do Majesty of the Seas, que seria transferido para a Pullmantur em abril. O porto de Tampa, que nos últimos anos vinha recebendo dois navios, um da classe Radiance e um da classe Vision, passaria a ser base para apenas um navio. No entanto, em julho, a companhia mudou seus planos após cancelar a transferência do Majesty. Com o navio permanecendo na frota, decidiu baseá-lo em Port Canaveral para os cruzeiros de três e quatro noites, enquanto o Enchantment seguia para Miami. Assim, o Rhapsody estava sem roteiros, e poderia retornar ao Brasil para sua segunda temporada consecutiva na América do Sul. 
A companhia, entretanto, optou por manter a oferta em Tampa, e decidiu que o navio realizará cruzeiros ao Caribe a partir da cidade do sul da Flórida junto ao Brilliance of the Seas. O episódio retrata a falta de interesse da Royal Caribbean em atuar no Brasil, que atravessa crise econômica, e nunca, segundo Ricardo Amaral, presidente regional da companhia, ofereceu as condições ideais para uma operação lucrativa e sustentável. Apesar dos pesares, a companhia atuou na região por quase 10 anos em sua segunda empreitada no Brasil, chegando a ter três navios dedicados ao mercado nacional simultaneamente. Dessa forma, a saída do mercado brasileiro pode ser uma despedida definitiva, enquanto a companhia utiliza seus navios em mercados mais lucrativos como o asiático, ou um “até logo”, enquanto a economia brasileira se recupera. 
A RCI, ainda pode, porém, surpreender com uma terceira possibilidade, uma “pseudo-novidade”. O Empress, atualmente operando pela Pullmantur, poderia estrear no Brasil como Empress of the Seas, à serviço da Royal Caribbean. O navio será transferido para a companhia norte-americana em fevereiro desse ano, e atualmente não tem roteiros definidos. Existe, assim, a possibilidade de a companhia dedicá-lo a roteiros pela América do Sul – o que daria algum sentido as declarações de Ricardo Amaral, que vinha dizendo, em outras palavras, que a ausência do Brasil na programação 2016/2017 da companhia não necessariamente significava um abandono dos roteiros no país.
Texto (©) Copyright Daniel Capella.
Imagens (©) Copyright Daniel Capella e Norwegian.

2 Comentários

  1. Duas coisas me chamaram a atenção, na entrevista do diretor da Pullmantur na semana passada: 1ª ) A Pullmantur estaria NEGOCIANDO a permanência do
    Sovereign. Negociando com quem? Será que é com os estados nordestinos? 2ª) Se tivesse incentivo, o nordeste poderia ter um navio da Pullmantur, o ano inteiro.

  2. Anônimo, a negociação que se refere o Zachello é interna, da própria companhia. Entre a matriz na Espanha e o escritório no Brasil.

    A operação de ano inteiro no Nordeste não é novidade, já foi considerada também pela Ibero há alguns anos: http://www.portalworldcruises.com/2012/09/ibero-pretende-operar-no-nordeste-do.html

    Sem falar na tentativa da CVC de fazer tal operação em 2005: http://www.portalworldcruises.com/2012/01/tentativa-frustrada-da-cvc-em-basear-um.html

    O incentivo que falta é o principal ponto no mercado brasileiro. Interesse não falta aos operadores, se houvesse apoio e o desejado incentivo, o investimento certamente viria, e outras questões como a infraestrutura seriam superadas. Infelizmente não é o que acontece.

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