A Crystal Cruises optou por não prosseguir com seu projeto de revitalização e adaptação do SS Unites States. Comissionado em 1952, o navio está imobilizado desde a década de 70, e poderia voltar a operar como um navio de luxo para a marca.
A Crystal Cruises decidiu não prosseguir com o projeto de adaptar o SS Unites States para o mercado de cruzeiros moderno, colocando-o de volta em operação. Estudos de viabilidade realizados por especialistas contratados pela companhia, concluíram que a iniciativa é inviável.
Perspectiva artística da nova aparência do navio |
A companhia de cruzeiros de luxo, que é parte do grupo Genting Hong Kong desde o ano passado, havia divulgado suas intenções em março desse ano. Como noticiado por nós na época, o plano não era definitivo, e só seria de fato realizado, caso os estudos confirmassem a viabilidade da iniciativa, o que acabou não ocorrendo.
A ideia da companhia era transformar o antigo transatlântico em um navio de cruzeiros boutique para viagens de luxo em todo o mundo. Inaugurado em 1952, o United States seria reconstruído, mantendo seu casco, chaminés e outras características. Ganharia interiores e casario modernos, além de equipamentos técnicos e motores de última geração. Uma novidade chave seria o acréscimo de alguns decks extras, e a anexação de varandas para novas cabines, criadas nos decks superiores.
O estudo, no entanto, concluiu que, ainda que a estrutura do navio esteja conservada, o projeto é inviável. Isso porque a adaptação do navio para os padrões técnicos e de segurança atuais seria muito desafiadora e exigiria mudanças profundas demais em sua estrutura.
Outra perspectiva artística do navio, dessa vez em Nova Iorque |
O alto custo investimento que seria necessário para a adaptação é um fator preponderante. A Crystal afirmou, no entanto, que a maior questão é a forma como as mudanças desconfigurariam totalmente o navio, tirando suas maiores características e prejudicando a ideia central do projeto, de reativar um ícone dos EUA.
Além de assumir os custos de manutenção do navio por seis meses, e gastar cerca de 1 milhão de dólares com os estudos de viabilidade, a Crystal irá doar 350 mil dólares para a SS United States Conservancy Society. A entidade sem fins lucrativos é proprietária do navio e busca salvá-lo, dando ao navio uma função na sociedade moderna e evitando seu desmanche.
Passado e Futuro
O “novo” United States em São Francisco em perspectiva artística |
Desativado desde 1969, o United States é o último navio de passageiros de grande porte construído nos Estados Unidos. Essa característica faz com que o navio possa ser registrado no próprio país, possibilitando a realização de cruzeiros de cabotagem com passagem exclusiva por portos norte-americanos. Navios de bandeira estrangeira só podem iniciar e finalizar cruzeiros nos EUA, se realizarem ao menos uma escala em porto estrangeiro.
Tido como orgulho nacional na época de sua inauguração, o United States foi projetado para travessias atlânticas entre os EUA e a Europa. Um dos navios mais rápidos da história, chegou a atingir quase 40 nós em sua configuração original, atravessando o atlântico com velocidade média de 36 nós. Nos dias atuais, a velocidade máxima média de um navio de cruzeiros é de cerca 20 nós, enquanto a velocidade média de cruzeiro não passa dos 18 nós.
A velocidade recorde valeu ao navio a fita azul, título concedido ao navio que realizasse a travessia entre os EUA e a Inglaterra em menor tempo. Ainda hoje o navio detém o título, que anteriormente pertenceu a navios célebres como o Queen Mary original.
Proa projetada para cortar as ondas e ajudar na hidrodinâmica |
Com o declínio das viagens marítimas de linha, o navio foi desativado pela United States Line, que o operava, no final dos anos 60. Assim como diversos navios da época, o United States, apelidado nos EUA como “Big U”, ficou imobilizado num porto norte-americano a espera de seu destino. Diferentemente da maior parte dos navios da época, no entanto, não chegou a ser vendido imediatamente, e não chegou a ser adaptado para a realização de cruzeiros.
Apesar da elaboração de diversos projetos para tal, o navio permaneceu imobilizado em diversos portos dos EUA, e só voltou a navegar em mar aberto quando foi levado a um estaleiro na Turquia na década de 90. Comprado por um empresário e envolto em polêmicas relacionadas a substâncias tóxicas a bordo, o navio teve o que restava de seus interiores desmontados e o maquinário removido para uma grande renovação que o colocaria de novo nos mares como navio de cruzeiros.
O navio chama a atenção na Filadélfia, onde está atracado há mais de 20 anos |
Substância comum nos anos 50 e 60, os abestos utilizados na construção do navio foram considerados perigosos pelos governos europeus, que decidiram banir o navio de seus estaleiros. Assim, o projeto acabou inviabilizado, e o United States retornou aos EUA rebocado, sem acabamentos em seus interiores e foi mais uma vez imobilizado, dessa vez na Filadélfia.
Constantemente ameaçado pela sucata, o Big U foi vendido para a Norwegian Cruise Line no começo dos anos 2000. A companhia pretendia também reativá-lo para a sua operação no Havaí. Distante de qualquer porto estrangeiro, o arquipélago americano é um destino popular quase inviabilizado pela lei de cabotagem dos EUA. O porto estrangeiro mais próximo fica a dois dias de navegação das ilhas, que ficam a cinco dias de navegação do território continental dos EUA.
Para realizar cruzeiros atrativos de duração média entre as ilhas, que variam 5 e 8 noites, é necessário que o navio faça escalas apenas nas próprias ilhas, e para tal, tenha bandeira norte-americana. A bandeira, no entanto, só é concedida para navios construídos no próprio país, que atualmente não possui estaleiros qualificados para a construção de grandes embarcações de passageiro.
Antiga área pública no interior do navio; desde a década de 90, não há móveis ou acabamentos a bordo. Para ver mais fotos dos interiores, clique aqui. |
Dessa forma, a NCL viu no United States uma oportunidade e o adquiriu junto ao SS Constitution, outro ex-transatlântico de bandeira americana na época disponível. O plano era reformá-los, trazendo-os aos padrões mais recentes de segurança e tecnologia, para a realização dos circuitos havaianos.
Nenhum dos dois, no entanto, chegou a entrar em operação pela companhia, que os revendeu sem sequer levá-los a estaleiro. Enquanto o Constitution foi diretamente para sucata, o United States acabou vendido para uma organização não lucrativa formada com o objetivo de salvar o navio da sucata e conservá-lo como patrimônio nacional estadunidense.
Formada por voluntários, a SS United States Conservancy Society busca parceiros para reformar o navio e adaptá-lo para uma nova função. As principais linhas de trabalho dos voluntários são transformar o navio em uma espécie de grande hotel, com centro de convenções, quartos de hotel, restaurantes, salões de festa e também um museu. Também consideram a criação de escritórios a bordo, ou centros de entretenimento com teatro e cinemas.