Durante o 4º Fórum CLIA Brasil, os diretores de três das principais companhias de cruzeiro do mundo discutiram a possibilidade de operar navios no país durante todos os doze meses do ano. 

Participando do painel Tendências e Cenários da Indústria, Adrian Ursilli (Country Manager Brazil da MSC Cruzeiros), Dario Rustico (Presidente Executivo para América do Sul e Central da Costa Cruzeiros) e André Pousada (Regional Vice-President, Government Relations – Latin America do Grupo Royal Caribbean) analisaram o assunto, destacando situações que precisam ser vencidas para que o objetivo seja atingido.

Pousada, Rustico e Ursilli discutem tema com o mediador André Coutinho, jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação

André Pousada, da Royal Caribbean, destacou o fator climático do Brasil, lembrando que o país não conta com limitações neste sentido. 

“Não é uma questão como no Alasca, onde, quando começa a chegar o outono e o inverno, os navios voltam”, explicou. 

Lembrou, no entanto, que mesmo assim, o país fica para trás na disputa com outros destinos. 

“A competitividade é um fator chave, já que esse navio irá realizar também temporadas em função dos mercados consumidores do Hemisfério Norte. No verão de lá, é inverno aqui. Nesse planejamento, eu preciso ser suficientemente competitivo enquanto país para favorecer também o mercado interno”, explicou, frisando que trata-se também de uma “questão de consumo” e “avaliação de planejamento da questão temporada hemisfério norte/sul”.

Já Dario Rustico, da Costa Cruzeiros, destacou as características ideais do país, cobrando maior planejamento e visão. 

“A indústria chegou a um ponto onde estamos oferecendo cinco, seis meses de período de cruzeiros. Um país como o Brasil tem de ser muito mais ambicioso. Temos que queimar essa palavra temporada, que virou uma limitação mental para a gente e que também nos impede de fazer coisas”, disse. 

Dario Rustico destacou que o país tem todos os requisitos necessários para a operação 

Para ele, a operação limitada acaba também afastando possibilidades de investimento, mesmo que o país tenha os requisitos necessários para ter sucesso comercial. 

“A gente fala em desenvolver a infraestrutura e os investidores respondem ‘sim, porém por três, quatro meses?’. O Brasil tem tudo. Tem sucesso no âmbito comercial, tem destinos potenciais e tem navios que querem e podem vir para cá”, explicou. 

Ainda para o executivo da Costa, para atingir o objetivo, o país precisa que todos os interessados se reúnam e criem um plano conjunto visando um ecossistema favorável. 

“Acho que esse é o momento certo para começar a discutir um projeto mais ambicioso para o Brasil. É um país que não é como os Emirados Árabes que tem 50ºC em junho, ou como o Alasca que tem muito frio. O Brasil tem uma oportunidade e tem que ter a ambição de ter navio todo o ano. Isso é um fato”, completou. 

Para Adrian Ursilli, o Brasil caminha para uma operação mais longa, mas ainda precisa vencer diversos obstáculos. 

“Já teremos seis meses de operação nessa temporada, estamos no caminho. Mas sendo muito objetivo, homeports são pedra fundamental. Temos uma situação no Rio de Janeiro mais bem encaminhada e alguns portos no Nordeste se preparando, mas temos um desafio no Porto de Santos para os próximos anos”, disse referindo-se à mudança do terminal de cruzeiros da cidade para um novo prédio na área central da cidade

“É uma oportunidade muito grande se tudo caminhar com o projeto no Valongo mas e o intervalo de hoje até cortar a fita lá? Isso é imprescindível para essa questão de ter navio por mais tempo. Precisamos da casa, do homeport, o porto principal”, acrescentou.

Porto do Rio de Janeiro conta com situação “bem encaminhada”, disse Ursilli 

Segundo ele, para poder ter um navio no Nordeste, é preciso haver embarques em Santos e no Rio de Janeiro.

“Se não tiver infraestrutura aqui não tem como levar para lá. Sabemos do compromisso da Antaq, da Santos Port Authority e do Ministério da Infraestrutura em apoiar o mercado. Estamos em conversas e queremos ter essa segurança de que podemos fazer isso,” destacou. 

“O Brasil tem a navegação de cabotagem permitida já há mais de duas décadas, mas se pensarmos nesse período da chamada baixa temporada, quando o consumo é menor, há provavelmente de existir um estimulo para a navegação de cabotagem, para que possamos trazer um navio”, acrescentou, lembrando que o inverno brasileiro compete com a alta temporada no Hemisfério Norte, que classificou como “o filet mignon do Caribe, da Europa, Norte da Europa e Alasca”.

Para poder colocar um navio no Brasil, é preciso ter um “diferencial competitivo”, acrescentou, com estrutura e incentivo para que a operação seja rentável. 

“Uma coisa são as férias de janeiro, outra coisa é operar turismo em maio, em setembro. É diferente, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Então tem de haver esse equilíbrio”, completou.

Texto e Imagem (©) Copyright Daniel Capella

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