Na semana em que o maior porto do hemisfério sul, o porto de Santos, completa 132 anos do porto organizado, o Portal World Cruises, apresenta um especial para te apresentar, essa e outras grandes histórias do porto de Santos, que se confunde com a história do Brasil.
Descobrimento do Brasil e o período colonial
A história do Porto de Santos está intimamente ligada à do descobrimento do Brasil e seu período colonial. Apesar de ter sido inaugurado oficialmente nos anos 1800, o porto já existia muito antes dessa data e tem tem relação com o sistema de Capitanias Hereditárias.
Criadas cerca de 35 anos após o descobrimento do Brasil, as capitanias tinham como objetivo garantir o povoamento da então colônia portuguesa. Uma das primeiras foi a de São Vicente, liderada por Martim Afonso.
É nesse contexto que surge o Porto de Santos. Após retornar para Portugal, Martim Afonso deixou sua capitania sob os cuidados de outro português, o fidalgo Brás Cubas.
Fundador da cidade de Santos, Cubas pode ser considerado também o fundador do porto da cidade.
Em uma de suas primeiras ações como responsável pela capitania, resolveu trocar de lugar o então porto de São Vicente, passando o local de recepção das naus lusitanas para um novo local.
Da região do atual bairro Ponta da Praia, o ponto de fundeio das embarcações passou para a área onde hoje fica o Centro da cidade.
Assim, ainda em 1531, Brás Cubas mandou construir trapiches na boca norte, em área hoje denominada Estuário de Santos.
Os trapiches, como eram chamados os antigos atracadouros, eram feitos de madeira e serviam como pontes de ligação entre a terra firme e os navios ancorados.
Começa assim a história do Porto de Santos como o conhecemos hoje.
Ciclos do Açúcar e do Café
O Porto de Santos seguiu relevante nos séculos seguintes por conta da produção econômica do Estado de São Paulo, primeiro com o ciclo do açúcar, depois com o ciclo do café.
A produção deste primeiro produto, inclusive, levou a criação da primeira ligação pavimentada entre o litoral e o interior do estado.
Produzido no interior do estado, o açúcar precisava chegar ao porto para ser enviado à Portugal e outros países. Assim o então governador, Bernardo José Maria de Lorena inaugura, em 1792, a Calçada do Lorena.
O caminho servia para que as mulas pudessem transitar sem as dificuldades de uma trilha comum.
Após ser restaurada nas últimas décadas, inclusive, a Calçada do Lorena pode ser visitada ainda hoje, em seu trecho contido no atual Parque Estadual da Serra do Mar.
De acordo a historiadora Wilma Therezinha, em declaração para o site Cidade e Cultura, a ligação pavimentada pode ser considerada o primeiro corredor de exportação brasileiro.
O novo caminho fez com que a maior parte do açúcar produzido no norte do estado de São Paulo deixasse de seguir para o Rio de Janeiro, sendo exportado por Santos.
Com a chegada da São Paulo Railway, em 1867, ligando por vias férreas a região da Baixada Santista e o Planalto, o sistema de transportes melhorou consideravelmente.
Oficialização do Porto
Apesar de já ter atividade portuária há mais de 400 anos, o Porto de Santos foi inaugurado oficialmente em 2 de fevereiro de 1892.
A data marcou a entrega dos primeiros 260 metros do cais contínuo da região do Valongo, pela Companhia Docas de Santos. Segundo o site Novo Milênio, a inauguração ocorreu com a atracação do navio à vapor Nasmyth, da armadora inglesa Lamport & Holt.
No dia 4 de fevereiro do mesmo ano, o jornal O Estado de São Paulo registrou a inauguração do Porto com a seguinte manchete:
“O Sr. vice-presidente deste Estado recebeu ontem, de Santos, dos srs. Gaffrée, Guinle e Companhia, o seguinte telegrama: “Com satisfação comunicamos a Vossa Excelência que foi entregue ao tráfego o primeiro trecho do cais de Santos”.
Uma forte influência no período de formação do porto organizado foi exercida pela Associação Comercial de Santos (ACS).
Fundada em 1845, no contexto da exploração do café, o “ouro verde”, a entidade representava então os interesses de exportadores e importadores.
Assim, exerceu maior pressão para que fossem contratadas empresas com gabarito para dar outra cara ao já defasado cais santista que tinha, até então, seus produtos condicionados de forma precária.
Companhia Docas de Santos
A inauguração marcou também a primeira vez na história do país, em que gestão de um serviço público era compartilhada com a iniciativa privada.
A administração do porto ficou a cargo de três empresários gaúchos, Eduardo Guinle, Cândido Gaffrém e Francisco de Paula Ribeiro, que fundaram a Companhia Docas de Santos.
De acordo com a Sindaport, o grupo liderado por Gaffrée e Guinle foi autorizado a construir e explorar, por 39 anos, período depois ampliado para 90 anos.
A iniciativa teve como base o projeto do engenheiro Sabóia e Silva. Segundo a atual Autoridade Portuária de Santos, os concessionários constituíram, no Rio de Janeiro, a empresa Gaffrée, Guinle & Cia.
Com objetivo de construir o porto, a empresa foi depois transformada na Empresa de Melhoramentos do Porto de Santos e, em seguida, em Companhia Docas de Santos.
Outra importante participação na construção do porto foi a do engenheiro alemão Guilherme Weinschenck.
A primeira pedra do porto foi assentada em 1890 e os primeiros cem metros de cais foram entregues no ano seguinte, em 1891.
A inauguração do ancoradouro repercutiu em todo o país por ser o primeiro porto organizado do Brasil.
A cidade de Santos obteve muitos benefícios do evento, dentre eles a substituição de velhos trapiches e pontes fincadas em terreno lodoso por aterros e muralhas de pedra.
Santos também foi contemplada com a construção de novos armazéns para guarda de mercadorias e uma via férrea interna.
Porto se expande
Em 1893 foram construídos mais 846 metros de cais. Nesse mesmo ano os trilhos da Cia Docas foram ligados aos da São Paulo Railway, diminuindo substancialmente o tempo de transporte de grãos do planalto a Santos.
Ainda em 1893, devido à necessidade de uma expansão maior ainda, o político Francisco Glicério autorizou a construção de mais 884 metros de cais, estendo as docas até o Paquetá.
Percebendo a melhora na qualidade de vida e benefícios do saneamento que as obras trouxeram à região do Valongo, a Câmara Municipal solicitou ao Governo Federal que a nova ampliação alcançasse a região do Outerinhos, a fim de eliminar o lodo que ameaçava a saúde pública.
A primeira década do Século XX foi marcada pela grande movimentação de café no porto.
Apenas em 1909, o grão sozinho foi responsável por 95,8% do movimento do porto santista. Em maio daquele ano, também foi assentada a última pedra da murada de cais, numa extensão contínua de 4.720 metros, que seguia da rampa do Valongo até o cais da Mortona.
No início do Século XX, mais precisamente em 1910, foi inaugurada ainda a Usina Hidrelétrica de Itatinga, em Bertioga. Com ela, chegaram guindastes, bondes e outras máquinas elétricas que modernizaram a operação portuária. A usina abastece o Porto de Santos até hoje.
Os dias atuais
Com o término dos 90 anos de concessão da exploração do Porto pela Companhia Docas de Santos, o Governo Federal cria em 1980 a Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), que passa a administrar o complexo portuário.
O cenário nacional é transformado com a Lei de Modernização dos Portos (Lei nº 8.630), de fevereiro de 1993. A criação dessa lei foi muito importante para os portos do país, pois estes encontravam-se defasados em comparação a outros portos ao redor do mundo, com uma infraestrutura antiquada e equipamentos operacionais sucateados.
A lei também permitiu a todos os portos brasileiros a reformulação do sistema de gerenciamento das operações e mão de obra.
Nesse contexto, o Porto de Santos passa a operar diversos tipos de cargas e recebe novos terminais especializados e de operação privada.
Hoje, o complexo portuário movimenta vários tipos de produtos nestes terminais, entre containers, veículos, granéis sólidos e líquidos, carga geral, e mesmo gases.
Em 1997, Santos também ganhou um terminal de cruzeiros próprio com a inauguração das instalações iniciais do atual Concais.
Após mudanças administrativas, a antiga CODESP opera hoje com o nome de Autoridade Portuária de Santos (APS).
Texto (©) Copyright Daniel Capella / Imagens (©) Copyright Daniel Capella e Benedito Calixto