Fabrício e o comandante Giuliano Bossi, a bordo do MSC Preziosa

Conheça a história de Fabrício Britto, que após trabalhar a bordo de navios de cruzeiros por mais de quinze anos, decidiu dedicar sua carreira em terra à qualificação da mão de obra brasileira voltada aos cruzeiros. O ex-tripulante fundou uma escola especializada e ainda criou o Tripulantes do Futuro, um projeto social que visa qualificar jovens da periferia de São Vicente para trabalho a bordo, e chegou a atender cerca de 800 pessoas por ano. 

Há dezesseis anos o jovem vicentino Fabrício Britto, 36, teve a chance de embarcar em um navio italiano como recreador infantil. Na época, o trabalho a bordo dos navios de cruzeiro era uma oportunidade muito distante de qualquer brasileiro. Era o início da atividade cruzeirista na costa brasileira e quase não se falava desse mercado.

MSC Rhapsody, o primeiro navio de Fabrício, visto no Brasil, em 2000
O objetivo de Fabrício era embarcar para uma temporada de apenas três meses, juntar dinheiro e investir na carreira de ator. Nos primeiros dias a bordo ele mudou de planos. Percebeu naquela oportunidade a chance de mudar de vida e não desembarcou mais. O primeiro contrato durou sete anos ininterruptos. Sem férias para visitar a família ou regressar aos estudos emendou as temporadas brasileira e europeia durante vários anos.

Na única empresa que trabalhou, a MSC Crociere, o vicentino chegou rapidamente ao cargo mais importante do setor de entretenimento devido aos seis idiomas que fala com fluência. Três deles aprendidos a bordo com a rotina do navio e muita dedicação.


Fatto Brazil e Projeto Tripulantes do Futuro
Em 2007, Fabrício decidiu desembarcar para abrir uma empresa no Brasil com foco na capacitação de mão-de-obra específica para os navios. E deu certo. Em apenas um ano a sua empresa, Escola Fatto Brazil, tornou-se referência nos mercados brasileiro e internacional.

Com perfil solidário, o jovem educador apresentou no mesmo ano da abertura de sua empresa, a ideia de um projeto social para todas as prefeituras da baixada santista, mas apenas a cidade de São Vicente apoiou o inovador e audacioso projeto e comprou a ideia do novato empresário. 
O projeto era o Tripulantes do Futuro que em apenas cinco anos mudou para melhor a vida de milhares de jovens e famílias da primeira cidade do Brasil. Com entusiasmo e muito apoio da gestão pública do município na época, além de parcerias importantes com empresas renomadas como Royal Caribbean International, MSC Cruzeiros do Brasil, Grupo Mendes, Concais, entre outros, o projeto foi reconhecido pelo Ministério de Ciências e Tecnologia e a cidade de São Vicente ganhou um Centro Vocacional Técnico para a construção de um prédio com capacidade para atender 800 jovens por ano.

Fabrício Britto e o cantor Michel Teló em noite de show a bordo do
MSC Preziosa

Sempre inquieto, Fabrício embarcava esporadicamente para reciclar e atualizar conhecimentos referentes ao mercado hoteleiro marítimo. Segundo ele este é um mercado em constante transformação, sobretudo no Brasil que é um país complicado nas questões políticas, econômicas e sociais que afetam diretamente as operações das empresas que frequentam a costa brasileira. 

Em suas idas e vindas, o professor e empreendedor social tornou-se oficial da companhia italiana atuando como Event Manager (Diretor de Eventos), organizando e produzindo grandes eventos como inaugurações e fretamentos importantes como as viagens temáticas dos cantores Roberto Carlos, Zezé de Camargo e Luciano, Michel Teló, Luan Santana e outros. Não tinha mais como um brasileiro crescer dentro da empresa. O jovem que deixou São Vicente aos 20 anos de idade conquistou o sucesso profissional e a admiração de uma das maiores empresas do segmento turístico do mundo e ainda fez seu pé de meia.

Foi justamente a questão financeira que o fez pensar nos jovens da cidade que nasceu. Tanto a Fatto Brazil quanto o Tripulantes do Futuro tornaram-se a missão de vida do empresário que, em nove anos de trabalho em terra, possibilitou o acesso de mais de dez mil jovens ao disputado mercado da hotelaria de luxo internacional. 
“Os alunos começam trabalhando na temporada brasileira. As empresas são obrigadas a contratarem 25% de tripulantes brasileiros. Isso também ajudou bastante para que as coisas dessem certo. Além disso, sempre tive uma equipe muito competente formada pelos melhores professores do mercado. Não foi um trabalho só meu”, afirma Fabrício, agora diretor executivo do Sistema de Ensino Fatto.

Mudança de gestão municipal prejudica projeto
Segundo Britto, com a mudança da gestão pública em São Vicente no final de 2012, mais de cinco mil jovens deixaram de ter acesso a um projeto capaz de transformar a vida das famílias da cidade. “Com o término do projeto eu perdi o entusiasmo, a alegria. O Tripulantes do Futuro é a minha vida. Sem perspectiva e ânimo algum preferi fechar a minha escola também. A gestão que assumiu a prefeitura da minha cidade ficou me devendo quase 100 mil reais equivalente a cinco meses de contrato. Foi o pior período da minha vida”, esclarece.

2015: o ano do recomeço 

Porém, motivado pelas milhares de histórias de sucesso que ajudou a construir, o empresário voltou ao mercado desde o ano passado por meio de uma parceria com uma grande rede de escolas de ensino profissio- nalizante. A parceria com o Instituto Mix de Profissões resgatou a autoestima e o estímulo do jovem empreendedor. 

“Eu fiquei triste por pouco tempo. Sou jovem, resiliente, criativo, apaixonado pela vida e pelas pessoas e sempre tive uma família maravilhosa. Sempre me ensinaram, se cair, levanta. Eu tenho um compromisso com a juventude da minha cidade, da minha região, do meu estado e do meu país. Quero ver todo mundo ter a mesma chance que eu tive. O mundo não se resume na Costa da Mata Atlântica”, declara.

Atualmente, o trabalho que Fabrício gerenciava nas dependências de uma luxuosa estrutura escolar localizada no Gonzaga em Santos é feito com exclusividade nas unidades do Instituto Mix de Profissões de São Vicente e Santos (Zona Noroeste). O projeto está em fase inicial e somente estas duas unidades do Brasil oferecem os cursos do Sistema de Ensino Fatto, porém já se estuda a possibilidade de ampliá-lo para todas as 410 unidades da escola espalhadas pelo país. 

Já o retorno do importante Projeto Social Tripulantes do Futuro depende dos resultados das próximas eleições municipais.
Imagens (©) Copyright Nelson de Barros Pereira, Fabrício Britto (acervo pessoal) 
e Daniel Capella.

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