Há 55 anos, Eugenio C fazia escala inaugural no Porto de Santos

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Eugenio C
Eugenio C em escala no Porto do Rio de Janeiro

Há exatos 55 anos, em 10 de setembro de 1966, o Eugenio C fazia sua primeira escala no Porto de Santos. Procedente da Itália, o então novo transatlântico da Linea C realizava a sua primeira viagem na linha regular entre Europa e América do Sul.

Também em viagem inaugural, o Eugenio C havia partido de Gênova no dia 31 de agosto daquele ano, realizando escalas em Barcelona, Lisboa e Rio de Janeiro antes de chegar a Santos.

O navio trouxe 1.600 passageiros, a maioria procedente da Itália, Espanha e Portugal, e recebeu mais 300 para a continuação da viagem. 

Após a primeira parada em Santos, seguiu para Buenos Aires, o porto final da rota regular. “O trajeto entre esta cidade e a capital argentina, o Eugenio C fará em apenas 48 horas, graças a sua grande velocidade”, anunciou o Jornal A Tribuna, em matéria da época. 

Considerado a frente de seu tempo, o navio foi classificado pelo jornal como  “o mais veloz, maior, mais estabilizado e moderno dos que foram destinados a operar serviço para a América do Sul”. 

Maior navio da frota e segundo a ser construído pela Linea C

Após o Federico C, o Eugenio C foi o segundo navio encomendado pela Linea C

O Eugenio C era então o maior navio da frota da Linea C, que encomendou sua construção ao Cantieri Riuniti dell’Adriatico alguns anos antes. Com cerca de 33 mil toneladas, foi também o segundo navio construído para o armador, que operava majoritariamente com navios de segunda mão. 

“A construção do Eugenio foi bancada com o dinheiro do seguro do Bianca C, que pegou fogo em 1961”, disse o historiador naval Emerson Franco Rocha.

Construído na década de 40, o Bianca C foi dado como perda total após uma explosão seguida de incêndio e naufrágio na ilha caribenha de Granada. Na ocasião, a embarcação realizava viagem de linha entre a Itália e a Venezuela. 

De acordo com Emerson, o Eugenio foi um dos últimos navios projetados especialmente para a realização da rota regular entre Europa e América do Sul. “Depois dele ainda foram comissionados o Pasteur e o Hamburg”, conta. 

Além da rota transatlântica, o navio também foi projetado com a realização de cruzeiros em mente. “Tanto que as partes comuns como restaurantes e salões, ficavam todas no mesmo deck. Quando havia divisão de classe, as separações ocorriam apenas por portas de vidro e cortinas. Até a decoração era praticamente a mesma”, explica o historiador. 

Originalmente, o Eugenio C contava com acomodações em três classes. Além da Primeira Classe, que tinha capacidade para 176 passageiros, possuía a Turistica A, com capacidade para 356 hóspedes, e a Turistica B, que transportava 1.102 hóspedes. 

O grande diferencial entre as classes estava nas cabines. Na Turistica B, algumas chegavam a ter banheiros compartilhados. 

Viagem inaugural teve recorde de velocidade na travessia do Atlântico 

Para quebrar o recorde, Eugenio C atravessou o Atlântico em 6 dias e 8 horas, a velocidade média de 27,5 nós

A primeira travessia do Eugenio C também foi marcada por estabelecer um novo recorde de velocidade no Atlântico.

De acordo com o Jornal A Tribuna, o navio realizou o trajeto sentido Europa – América do Sul foi realizado em apenas 6 dias e 8 horas, a uma velocidade média de 27,5 nós. 

A título de comparação, a velocidade máxima um navio de cruzeiro moderno como o Costa Fascinosa, costuma ficar próxima dos 20 nós. 

O Eugenio C estava sob o comando de Marco Simicich, capitão de longo curso considerado veterano do Atlântico. Na época, já tinha carreira de 33 anos, com realização de mais de 200 travessias do Atlântico em navios de passageiro e carga. 

Para marcar a chegada inaugural em Santos, o Eugenio C foi palco de uma cerimônia e coquetel enquanto atracado no Armazém 16. 

Um dos presentes era Giacomo Costa, dirigente e proprietário da Linea C, que ressaltou o interesse de sua empresa na América do Sul, ilustrado pela presença do moderno navio em águas brasileiras. 

Também estiveram presentes autoridades locais como Hedno Viana Chamoun, Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, e Ibrahim do Carmo Mauá, representando o Prefeito de Santos, Silvio Fernando Lopes. 

Navio seguiu operando no Brasil por 30 anos 

Eugenio é visto deixando o Porto de Santos, em cartão postal de Jose Castro

Após a visita inaugural, o Eugenio C seguiu visitando o Porto de Santos regularmente por 30 anos, operando tanto as viagens de linha como cruzeiros voltados ao público local. 

“O navio ficou bem famoso por aqui, todo ano fazia viagens ou para Terra do Fogo ou para o Caribe, em 30 dias”, conta Emerson. 

Os cruzeiros rumo ao Caribe partiam de Santos anualmente, normalmente no mês de janeiro. “Teve ano que esse roteiro foi feito também nas férias de julho. Também teve ano com duas viagens consecutivas ao Caribe e ambas lotadas”, acrescentou. 

“Muita gente conhecida viajou, incluindo artísticas, políticos e outros passageiros vip”, disse o historiador. O cantor Roberto Carlos, por exemplo, é um dos famosos que possui relação como Eugenio C. 

O navio em cena do filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura

No final dos anos 1960, o navio foi um dos cenários do filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura e, supostamente, inspirou o cantor a criar seu próprio cruzeiro temático. Desde 2005, Roberto Carlos realiza anualmente o Emoções em Alto Mar, um dos temáticos mais tradicionais no mercado brasileiro. 

O Eugenio C ainda marcou o começo da parceria entre o cantor Toquinho e o poeta Vinicius de Moraes. Foi durante uma viagem a bordo do navi que os dois se tornaram amigos e criaram a primeira canção juntos.

“Certamente, a atmosfera positiva compartilhada no Eugenio C foi um presságio para toda a obra que produzi com Vinicius de Moraes”, lembra Toquinho. 

Quando a Linea C se tornou Costa Crociere em 1986, o navio foi rebatizado Eugenio Costa, mas seguiu viajando pela costa brasileira.

Pouco depois, passou a realizar exclusivamente viagens de lazer até ser vendido pela companhia italiana em 1996. No mesmo ano se despediu do Porto de Santos, passando a navegar em outras regiões até ser desmontado em 2005. 

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7 Comentários

  1. Estive à bordo do Eugênio C no final de setembro de 1968. Eu tinha 6 anos e estava viajando, com meus pais e irmãos, de Santos para Lisboa. Apesar de minha pouca idade, lembro de muita coisa no navio. Lembro do cinema, do restaurante, do salão de chá, de pessoal praticando “tiro ao prato” no convés, das festas na piscina, da sala dos brinquedos, onde a criançada ficava por conta de cuidadoras, enquanto os pais se divertiam pelo navio. Ficamos em Portugal até meados de Janeiro de 1969 e retornamos ao Brasil a bordo do Enrico C, irmão menor do Eugênio.

    • Prezado Antonio Carlos,

      Eu viajei 2 vezes no Eugenio C, no ano de 1975. Eu tinha 14 anos e viajava com meus pais e irmãos. Suas memórias são também as minhas. Momentos inesquecíveis.

  2. Eu viajei duas vezes no Eugénio C de Lisboa para o Rio de Janeiro em Julho de 1978 com 17 anos. Passei pelo Estreito de Gibraltar até Barcelona onde dei um passeio de Táxi para conhecer a cidade, onde voltei diversas vezes posteriormente. Depois seguimos para Génova onde estivemos uma noite inteira para a escala maior do navio. passeámos por Génova onde, pela primeira vez comi uma pizza, na Plaza de Caricamientto!!! Ouvia-se falar em Portugal mas, ainda não havia lá… A chegada a Génova foi emocionante com tantos Italianos a saudar a sua chegada à sua Pátria! Partimos no dia seguinte para Cannes onde chegámos em pleno 14 de Julho, dia da França, e tivemos oportunidade de ver dede o navio os fogo de artifício. Veio um pequeno barco trazer os passageiros ao navio pois, o seu tamanho não permitia a entrada no porto de Cannes. Seguimos para Barcelona outra vez e finalmente para o Rio de Janeiro.
    Em Setembro regressei a Portugal desde o Rio de Janeiro outra vez no Eugénio C. Desta vez fui a Santos e a Buenos Aires. Cidade que amei de paixão e onde voltei outras vezes. Cheguei a Lisboa no início de Outubro.
    O que mais recordo do Navio, além do já referido pelo outros passageiros e comentadores da notícia, foram as Festas da passagem do Equador. De fazer uma saudade infinita as brincadeiras e as músicas e… e… O à vontade e a diversão davam as mãos e era uma passagem inesquecível. Ainda a Festas diária nos Restaurantes e nas salas com orquestras e referências às diversas nacionalidades presentes nos passageiros e em especial Italianas foram inesquecíveis.
    Guardo fotografias de tudo com muito carinho e saudade.
    Um VIVA à “memória” do Eugénio C que me proporcionou alguns dos melhores momentos das muitas viagens que fiz na Vida!!!!

  3. Em 1967 eu iria fazer uma viagem de navio para a Argentina junto com a família de um amigo. Devido o falecimento do avô deste amigo a viagem foi cancelada. O navio era o Eugenio C.
    Somente pude fazer um cruzeiro quando meu filho me deu presente de Dia dos Pais uma viagem de 4 dias (mini cruzeiro) com o Costa Serena – Santos – Rio e Janeiro – Santos. Depois desta viagem eu minha família fizemos mais 3 cruzeiros; 2 para Salvador e 1 para Buenos Aires.

  4. Viajei no Eugenio C em 1969, com meus pais, rumo a Portugal.
    Saímos de Santos e fizemos escalas no Rio antes de seguir
    para Lisboa.
    Embora tivesse apenas 9 anos, foi uma viagem marcante. O
    espetáculo do mar aberto, a vida marinha que se vislumbrava
    com a visão de golfinhos, baleias e pequenos peixes era
    fascinante para um garoto acostumado à vida urbana de São
    Paulo.

    O navio era um espetáculo à parte. Para os adultos, pelo glamou.
    Havia ainda o fato de o navio ser muito moderno, cruzar o Atlân
    tico em menos tempo (creio quq e o cruzamos em sete dias);
    os salões onde à noite havia festas, o restaurante sofisticado
    — ah!, ainda posso sentir o gosto delicioso do sorvete servido
    em taças delicadas…

    Para mim, havia a possibilidade de percorrer o trantatlântico
    emplena liberdade, visatar a ponte de comando, a proa sem a
    companhia de qualquer adulto – algo inimaginável nos dias
    de hoje. Havia ainda o dia interiro para se esbaldar na piscina
    com outras crianças de minha idade. Foi um sonho.
    Valeria a pena escrever um livro mais alentado
    sobre sua história.

  5. Em 1971 eu tinha 3 anos de idade, viajava com minha tia, meus pais e meu irmão de 6 anos. Eu lembro dos salões de jantares na mesa do comandante, do tiro no prato, da piscina, do quarto que era uma bicama e eu acendia e apagava a luz e tentava abrir a escotilha que era fixa, do mar revolto, pegamos uma tempestade! Descemos em Nápoles e ganhamos uma cesta cheio de frios e queijos, ficamos dias lá, na época eu tinha o boneco do topogiglio que não largava dele. Foram dias inesquecíveis. Depois pegamos o navio dan ate haifa. Na volta o Enrico c. Voltei a Itália aos 30 anos de idade e muitas recordações do Eugenio c que ficarão eternas na minha memória

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