Pacific Princess, o Love Boat, em Nova York em seu tempo áureo.

Com 42 anos de operação, o Pacific realizou no começo desse mês seu último cruzeiro, com um destino infame: a sucata. Após operar para a Flagship Cruises, a Princess Cruises, a Pullmantur, a CVC e a Quail Cruises, o navio agora terá seu aço utilizado para novas finalidades. Continue lendo

Como adiantado por nós há alguns dias, o Acif ex-Pacific, Pacific Princess e Sea Venture, foi vendido para a sucata em Aliaga, na Turquia. Imobilizado desde 2008 em Gênova, por diversas razões, o navio era propriedade do estaleiro que havia sido contratado nesse ano para uma extensa reforma, que acabou não sendo quitada pela Quail, sua proprietária na época. Assim, como pagamento, o estaleiro acabou recebendo o navio, que já estava com 50% das obras concluídas, quando da transferência. 

No começo desse ano, o mesmo estaleiro genovês foi contratado para reformular o gêmeo do Pacific, Discovery, ex-Island Princess, que hoje navega para a Cruise & Maritime Voyages, e acabou utilizando partes do Pacific para repor as do Discovery, o que deixou o navio que já não tinha condições de voltar imediatamente a navegar, ainda mais distante de uma operação comercial. Com as condições que enfrentava, e mais de 40 anos de seu lançamento, pode se dizer que o Pacific durou até mais que o esperado. Especialmente porque sua venda para a sucata já havia quase sido concretizada há mais de ano, para os mesmos sucateiros que o adquiriram dessa vez.
Trecho de catálogo brasileiro da Princess, elaborado pela representante Queensberry, que destaca os “Barcos do Amor”. O texto contém um pequeno deslize: a série de nove temporadas, não foi gravada exclusivamente no Pacific Princess. O catálogo é do início dos anos 90.
O negócio só não foi firmado por detalhes na negociação, que acabou não sendo concluída como esperado. Agora, o navio em sua última viagem, reencontra nas areias de Aliaga, um navio que foi seu companheiro de frota em duas diferentes fases de sua vida, o Antic, que operou junto ao então Pacific Princess na frota da Princess como Sky Princess, e também na Pullmantur, quando chegaram inclusive a fazer temporadas brasileiras juntos, como Sky Wonder e Pacific.
O Pacific foi construído em 1971 para uma start-up mal sucedida chamada Flagship Cruises. Após cinco anos de operação por sua companhia construtora, o navio foi vendido para a P&O, que havia acabado de comprar a Princess Cruises, e o transferiu para sua nova marca. Essa foi a principal e maior fase de sua carreira; como Pacific Princess, operou de 1975 a 2002, e foi o principal palco da série Love Boat, produzida para a televisão americana, e que foi um sucesso por 9 anos, entre 1977 e 1986. Por conta do sitcom americano, que também foi gravado a bordo de outros navios da Princess e do Stella Solaris, também já desmontado, ficou famoso em todo o mundo, e encorajou muitos passageiros a experimentar um cruzeiro pela primeira vez, em uma época que a indústria dos cruzeiros como conhecemos hoje ainda se formava. 
É um dos raros navios que navegaram em praticamente todos os mares e continentes no mundo, desde o Pacífico, que o nomeou ao Mar Negro, passando pelo Báltico, Índico, Atlântico e Caribe. Em suas últimas temporadas pela Princess, realizou temporadas no Mediterrâneo, com roteiros de 12 noites entre Barcelona e Veneza, e vice-versa, no verão, e América do Sul ou Sudeste Asiático e Oceania, nos invernos boreais, chegando a estar no Brasil diversas vezes nesse período. Após ser vendido pela Princess em 2002, o Pacific Princess passou a ser apenas Pacific, na frota da recém-formada companhia espanhola Pullmantur. 
No Brasil ao serviço da CVC.

Como Pacific, operou entre o Mediterrâneo, o Caribe e a América do Sul. Tendo sido, inclusive, o último navio a operar o ano inteiro no Brasil, em parceria da Pullmantur com a CVC, em 2005. A iniciativa mal sucedida da operadora brasileira já foi retratada em uma matéria em 2012 (clique aqui para ver). Além disso, foi um dos navios pioneiros na exploração dos cruzeiros em Fernando de Noronha como se conhece hoje, com roteiros semanais desde Recife e outras cidades do Nordeste, lançados pelo próprio em 2004/2005, quando foi fretado pela primeira vez pela CVC.

Roteiros do Pacific e Island Princess para a temporada 1994/1995.
Entre 2004 e 2008, veio ao Brasil em quatro temporadas, além da operação de ano inteiro abortada em 2005, e ainda tinha sua volta programada para a quinta temporada sul-americana, em 2008/2009 e 2009/2010. Impossibilitado devido já aos problemas que acabaram encerrando sua carreira, acabou sendo substituído pelo Orient Queen (fato que foi assunto do terceiro post do blog WorldCruises.com, em Agosto de 2009, clique para ver) que voltará ao Brasil no final desse ano como Louis Aura

Perfil dos “Love Boats” no catálogo da
Princess, para mais desse catálogo,
clique aqui. 

Enquanto operou no Brasil, enfrentou muitos problemas de manutenção, e protagonizou histórias infames; relatos de atrasos gigantescos devido a problemas com motores, condições longe das ideais a bordo, falta de ar condicionado, energia elétrica e água corrente a bordo, e ambientes e cabines decadentes foram constantes entre os passageiros, que acabavam prejudicados pelo fato de o Pacific ser o único navio autorizado a operar na região em que operava. Há vários anos, inclusive, tivemos acesso a um processo contra a CVC movido por um passageiros da companhia que se sentiram lesados pelas condições de viagem que lhe foram oferecidas, e se recusaram a embarcar. Na justiça, exigiram as despesas relacionadas ao cruzeiro frustrado e a aos compromissos perdidos em função disso.

Por conta disso, nas últimas temporadas do navio no Brasil, a CVC, em uma jogada de marketing, tentou modificar a imagem negativa que o Pacific havia conquistado, passando a chamar o navio de New Pacific. Para justificar, a operadora citou uma reforma que o navio havia passado na Europa, mas que, na verdade, essencialmente trocou os carpetes e alguns dos estofados das áreas públicas.

Página do catálogo da primeira temporada do Pacific no Brasil.
Sua última companhia foi a espanhola Quail Cruises, formada pela CVC, que na época era uma das proprietárias do Pacific, e empresários espanhóis, para competir com a Iberojet e a Pullmantur, que dominavam o mercado espanhol na época. Chegou a iniciar as operações pela nova companhia em 2008, mas só navegou sob a nova bandeira por alguns meses, já que, resultado da falta de manutenção, foi proibido de seguir navegando devido a ameaça real que os botes salva-vida representavam a seus passageiros. Ironicamente, o sistema do navio que deveria garantir a segurança dos passageiros, estava no Pacific causando o perigo a estes. 
“O Pacific volta com tudo ao Brasil.
Dessa vez, para ficar por muito mais
tempo”. Catálogo da tentativa de
operação do Pacific no Brasil durante
todo o ano de 2005.

A viga que os sustentava junto ao navio, encontrava-se em estado avançado de deterioração, e ameaça ruir a qualquer momento. Esse foi o fato que a princípio levou o navio ao estaleiro em Gênova onde passou seus últimos anos. Com a necessidade desta intervenção, a Quail decidiu aumentar o período em doca, e colocar a manutenção do navio em dia, além de revitalizar alguns ambientes. Os capítulos seguintes são contraditórios, aparentemente, a Quail não conseguiu quitar as dividas relacionadas a essa reforma, e acabou perdendo judicialmente a propriedade do navio para o estaleiro em questão. Porém, há uma outra linha, que indica que as dívidas na verdade não diziam respeito a Quail, e sim ao proprietário do navio, que não teria pago aos antigos proprietários todo o valor relacionado a  sua venda.

Última posição do navio em Aliaga, onde agora será
desmontado. 

O certo, é que, após cinco anos em Gênova, e vários leilões mal sucedidos, o navio foi finalmente vendido na última semana. Renomeado Anfic, partiu para Aliaga sem força própria, sendo rebocado por um rebocador turco chamado Izmir Bull. Chegou em seu destino final no dia 6 de Agosto de 2013, significantemente adernado, por ter uma de suas casa de máquinas inundadas, e foi encalhado próximo ao que restou do Sky Wonder (no vídeo, os destroços coroados por uma chaminé vermelha). Agora, seu aço servirá a novas construções ao redor do mundo, e seu legado viverá para sempre na indústria dos cruzeiros, mundial e nacional.


Texto (©) Copyright Daniel Capella
 Imagens (©) Copyright Aliaga Ekspres, ABC, Milvo Rossarola e Princess Cruises.

4 Comentários

  1. não achei essa foto do Pullmantur acima legal e nem bonita. Mas o blog esta de parabéns, mas se pudesse destacar os comentários com cor ficaria melhor..

  2. Choro sempre que vejo a foto do Pacific sendo desmontado. Meu primeiro contrato em 1990.Saudades dos amigos e de grandes lembranças.

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