Costa Atlantica entra em doca-seca em Shanghai |
Como anunciado por nós, a Carnival Corporation encomendou dois novos navios à CSSC – China State Shipbuilding Corporation. As embarcações serão construídas por uma joint-venture que inclui a própria empresa chinesa, a Carnival, o estaleiro italiano Fincantieri e um fundo de investimentos chinês.
Carnival Vista em construção na Itália em 2015; navios chineses utilizarão mesmo design |
Com projetos altamente complexos e especializados, o mercado de construção de navios de cruzeiro ainda é dominado pelos estaleiros europeus tradicionais, como o STX France, ex-Chantiers de l’Atlantique, que tem origens datando dos anos 1800. O próprio conglomerado italiano Fincantieri, possui unidades como a do antigo Cantieri Navale Triestino, de Monfalcone, que foi fundado em 1908, e após uma fusão com outro estaleiro italiano, foi incorporado pelo estatal em 1984.
A exceção são estaleiros japoneses, como o Mitsubishi Heavy Industries, que, além de navios para as marcas domésticas japonesas, como o Fuji Maru, da Mitsui O.S.K. Line, construíram também na última década alguns navios para o mercado internacional. Foram duas ocasiões em que o Japão construiu navios de cruzeiro internacionais, sempre para marcas da Carnival Corporation.
Com mais de ano de atraso, AIDAprima deixa estaleiro onde foi construído, em Nagasaki, Japão |
No começo dos anos 2000, a Princess Cruises, então ainda controlada pelo grupo P&O Princess, construiu o Sapphire Princess e o Diamond Princess no país nipônico. Enquanto em construção, um dos navios se incendiou, causando grande prejuízo para o estaleiro, e um atraso de mais de um ano em sua construção.
Mais recentemente, a Carnival Corporation encomendou, também ao Mitsubishi, dois navios para a sua filial alemão AIDA. O primeiro dos navios, acabou tendo atraso de quase um ano e meio na data prevista para sua conclusão. O estaleiro, que ofereceu preços mais baixos que seus concorrentes europeus para a construção, acabou com prejuízo milionário, após assumir ter subestimado a complexidade da tarefa assumida. Os japoneses também afirmaram ter sido esse o principal motivo para o atraso na entrega das embarcações.
O segundo navio deste contrato, AIDAperla, tinha entrega prevista para o começo deste ano, mas continua em construção e deve ser finalizado apenas no primeiro trimestre do próximo ano. Ainda de acordo com o Mitsubishi, esse deve ser o último navio de cruzeiro construído pelo estaleiro, que se afastará, ao menos momentaneamente desse tipo de embarcação.
Fincantieri é o estaleiro com maior número de navios em encomenda |
Se obtiver sucesso em seu contrato com a Carnival, a CSSC – China State Shipbuilding Coporation – pode revolucionar a construção dos navios de cruzeiro a nível mundial. Sendo capaz de construir navios de boa qualidade, entregues no prazo e por preços mais baixos, os estaleiros chineses poderiam passar a monopolizar o mercado, servindo não só companhias locais como no caso desta encomenda, mas também empresas internacionais.
Com preços mais baixos e qualidade aceitável, os navios chineses certamente teriam posição de destaque nos cadernos de encomenda das empresas de cruzeiro, deixando o domínio da indústria européia de construção naval no passado, e possibilitando modernização da frota mundial com maior quantidade de embarcações novas.
Companhias menores como a Pullmantur, a Celestyal e a Fred.Olsen, por exemplo, poderiam ter na diminuição de preços o incentivo para passar a encomendar novas embarcações como fazem as companhias maiores. Atualmente essas, e várias outras, companhias operam apenas navios de segunda mão, construídas por outras empresas há pelo menos quinze anos.
A vida média de um navio de cruzeiro, que hoje gira em torno de 35 anos, também poderia ser drasticamente diminuída, ao ponto de que, valeria mais a pena investir em um navio chinês moderno do que manter uma unidade mais antiga e significantemente menor eficiente.
Meyer Werft começa a construção de mais um navio de cruzeiro, em sua doca-seca coberta |
O certo, no entanto, é que os estaleiros europeus poucas vezes viveram fases tão boas para seus negócios de navios de cruzeiro. A lista de embarcações em encomenda é recorde e conta com unidades com entregas previstas até 2026, outro recorde. Estaleiros como o Meyer Werft, da Alemanha, que possui espaço limitado em suas docas secas e é capaz de entregar apenas cerca de duas embarcações de grande porte por ano, estão totalmente ocupadas.
O estaleiro alemão tem sua agenda totalmente cheia até 2021. Com os navios deste ano, e junto a sua filial norueguesa, o Meyer Turku, o estaleiro possui 22 unidades de navios de cruzeiro em encomenda ou entregues. Já o italiano Fincanrieri, irá entregar 26 navios até 2022, enquanto o STX France construirá 15 embarcações até 2026.
Vale notar, no entanto, que apesar de estarem em menor número, os navios do estaleiro francês são significantemente maiores. A indústria naval de St. Nazaire produzirá mais dois gêmeos para o maior navio do mundo, o Harmony of the Seas, e ainda construirá quatro embarcações de 200,000 toneladas para a MSC Crociere.
Não vai ser fácil a China construir navios de cruzeiros de qualidade a curto prazo. Há um provérbio chinês que diz que o que é bom é caro, o que é barato não presta, e a maioria dos navios construídos na China por preços baixos traduzem totalmente esta perspectiva. Materiais medíocres, navios novos com problemas de navios velhos logo à nascença, etc… Se fosse fácil já há muito que o Oriente tinha ocupado este nicho de mercado tão apetecível. O seu artigo é interessante e está bem escrito e fundamentado, apesar da linha politicamente correcta, pouco crítica, mas custa-me ler o termo "embarcação" a referir os grandes navios de passageiros actuais, que de facto são das criaturas mais nobres a sulcar os oceanos, apesar de pelas suas dimensões, os navios de cruzeiros levarem consigo numerosas embarcações, vedetas para embarque e desembarque de passageiros e tripulantes quando fundeados e embarcações salva-vidas, para o que der e vier. LUÍS MIGUEL CORREIA – Lisboa
Obrigado pelo comentário e participação Luis Miguel. Sua presença em nosso site é sempre uma honra.
Um abraço,
Daniel Capella.