Diferentes gerações de navios lado a lado.

Após quase dez anos construindo navios exclusivamente no Kvaerner Masa Yard, hoje conhecido como STX Finland, em Turku, Finlândia, a Royal Caribbean International encomendou em meados de 2011 novos navios em outro estaleiro, o alemão Meyer Werft, de Papemburg. O último navio construído pela companhia longe de Turku, havia sido o Jewel of the Seas, que saiu do mesmo Meyer, em 2004.

O Jewel, é parte da classe Radiance, que começou a ser planejada pela Royal no final da década de 90, como uma evolução da Vision Class, ou seja: um navio de tamanho médio para os padrões atuais, com decoração balanceada, muita luz natural e características mais tradicionais, projetados para viajar ao redor de todo mundo e não só no Caribe. Uma espécie de antítese da classe Voyager, projetada alguns anos antes, em 1994, com a intenção de inovar, quebrar paradigmas e introduzir à indústria de cruzeiros novidades de todo o tipo, como paredes de escalada.

Quantum of the Seas
North Star

Lançados pra- ticamente ao mesmo tempo que os da Radiance, os navios da classe Voyager eram então os maiores do mundo, e haviam sido projetados para viajar exclusivamente pelo Caribe, tendo sido construídos na Finlândia. Foram os primeiros navios a contar com a Royal Promenade, uma espécie de boulevard de quatro decks, cercado por lojas, bares e restaurantes, e o Studio B, um rinque de patinação no gelo que pode ter a pista de gelo coberta, se transformando em uma espécie de arena com múltiplas utilidades. Até então, estas eram atrações exclusivas da classe Voyager, e não foi surpreendente que os navios da classe Radiance não a possuíssem.

Contudo, o tempo passou, e estas atrações se mostraram, não só presentes na classe Voyager, mas parte da filosofia da frota da Royal Caribbean, que as introduziu em todos os navios encomendados posteriormente. Foram, ao todo, construídos após os cinco navios da classe Voyager, outros cinco navios, todos maiores do mundo na época de suas respectivas inaugurações. E todos eles com algo incomum: as inovações introduzidas em 1999 pelo Voyager of the Seas. Tanto os da subsequente classe Freedom como os da mais recente classe Oasis possuem tanto o Studio B, como a promenade interna. As atrações se tornaram tão comuns na frota da companhia, que olhando-se em retrospectiva, torna-se curioso o fato do Jewel, Radiance, Brilliance e Serenade of the Seas, os navios da classe Radiance, que foram projetados após os da Voyager, não possuírem nenhuma destas atrações.

Radiance of the Seas
Parede de vidro do Serenade of the Seas

É verdade que a Royal Caribbean sempre teve a postura de investir em muitos mercados ao redor mundo, e, não só no Caribe, de forma que, possuindo diferentes mercados e públicos, tem interesse em ter uma frota mais heterogênea, que possa servir a todos estes. O que explicaria os navios menores e tradicionais, mas o motivo para isso pode ser mais do que estratégia, e hoje, mais de dez anos depois, parece mais evidente. Mais uma vez, a Royal Caribbean se vê projetando simultaneamente navios de diferentes tipos. Um deles, na verdade, é uma evolução, uma versão aprimorada, mas bem semelhante da Oasis, que assim como o Voyager, tem em seu DNA a inovação, o tamanho, e os climas mais quentes, visando atender o mesmo público caribenho que ficou fascinado com o Voyager of the Seas em 1999.

Enquanto isso, navios completamente novos são projetados no Meyer Werft, com tamanho médio em relação aos da classe Oasis (apesar de serem ainda enormes em comparação com o restante da frota da companhia e mundial). Serão estes novos navios uma nova Radiance Class? A classe Quantum terá, por enquanto, três representantes (apesar de já terem sido encomendados sistemas de ar-condicionado para pelo menos quatro), que ficarão prontos em 2014, 2015 e 2016. Terão, quando finalizados, 167,800 toneladas, e capacidade para mais de 4,150 passageiros em ocupação dupla.

Espetáculo Ice Under the Big Top no Studio B.

Apesar do tamanho desproporcional, a Royal parece estar projetando sucessores da classe Radiance, com o objetivo de servir em mercados de climas mais frios, e com público mais tradicional. É possível notar após o anúncio das primeiras informações sobre o navio, divulgados pela companhia em 18 de Abril. As plantas já liberadas, mostram que não haverá uma Royal Promenade, rinque de patinação, ou um teatro de águas dançantes como no Oasis. Estarão presentes algumas atrações da Freedom/Voyager class como o FlowRider (simulados de surfe), a H20 Zone (parque aquático) e a parede de escalada, além de “novas inovações” como o North Star, que levará os passageiros para fora do navio em uma cápsula de vidro, mas é possível ver pelas plantas, que se trata de um navio bem mais tradicional que os últimos construídos pela companhia, assim como os Radiance.

O próprio nome preliminar de projeto da classe Quantum, Sunshine – algo como brilho do sol em português – aparenta ser uma dica nesse sentido. Os navios da classe Radiance foram projetados de forma a contar com a maior quantidade possível de luz natural em seus conveses internos, para isso, possuem muito vidro em suas paredes e teto, claraboias enormes, e janelas que vão do chão ao teto são uma constante a bordo, e deverão ser também uma característica da classe Quantum, o que pode ser o motivo do apelido Sunshine, adotado entre o anúncio da construção do navio, e a divulgação de seu nome definitivo.

Promenade do Color Magic, qualquer semelhança não é mera coincidência. 
Royal Promenade no Mariner of the Seas

Aparentemente, mais do que estratégia, o motivo para os navios da classe Radiance, e agora da classe Quantum, não possuírem muitas das características introduzidas pelos navios saídos do STX Finland, pode estar nas leis finlandesas. Apesar de não ser uma informação oficial, e nem ter sido citada pela Royal, alguns destes elementos – especialmente a Royal Promenade – podem ser defendidas por leis de copyright, uma vez registradas como patentes do estaleiro finlandês. O boulevard interno, que se expande por quase todo o navio, e vários andares, com lojas e restaurantes, é realmente um conceito do então Kvaerner Masa Yards.

Foi introduzido pela primeira vez em dois ferries da Silja Line, o Silja Symphony e o Silja Serenade, em 1990 e 1991, e posteriormente usado em um par de gêmeos da Color Line, em 2004 e 2007. Sendo assim, o conceito da Royal Promenade, e todos os elementos estruturais que a tornam possível (como uma porta corta fogo de três andares de altura e cerca de 10 metros de largura) seriam propriedade do estaleiro STX e suas filiais em todo mundo, não sendo aplicáveis a navios construídos em outros estaleiros, como o Meyer Werft. O mesmo se aplicaria ao Studio B, que se apresenta em dois andares, com uma pista de patinação no gelo ao centro, e arquibancadas em forma de arena em sua volta, onde são realizadas várias atividades, como shows no gelo padrão Disney, e possivelmente a outras atrações dos navios da classe Voyager, Freedom e Oasis.

Há quem diga porém, que uma patente só dura cerca de 20 anos, e que se o STX realmente possuí este direito sobre os ambientes citados, este já teria vencido, ou estaria em vias de vencer, uma vez que o projeto do Voyager of the Seas possui 19 anos, e o dos primeiros navios a possuírem uma Promenade, mais ainda. Se essa história é real ou não, não é possível confirmar.

Viking Crown de um navio da classe Voyager; Quantum será o primeiro navio da companhia a não ter o lounge panorâmico que circunda a chaminé. 

O certo, é que nenhum outro navio até o presente momento, que possua uma Promenade interna saiu de outro estaleiro que não um STX. Certo também, é que o projeto do Quantum of the Seas como um todo, será diferente de tudo que a Royal Caribbean já fez até hoje, ainda que possua muitas das características da marca. A síntese disso é a chaminé do navio, que será bem parecida com a do Oasis of the Seas, com o clássico símbolo Crown & Anchor, mas, pela primeira vez na história da companhia, sem o tradicional e representativo Viking Crown Lounge, logo a baixo.

Texto (©) Copyright Daniel Capella.
Imagens (©) Copyright Daniel Capella, Royal Caribbean, Bart de Boer e Peter Watson. 

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