Após os sucateiros de Aliaga, na Turquia, tomarem a dianteira no desmanche de navios no início da pandemia, os demolidores de Alang, na Índia, entraram em cena nas últimas semanas. Com diversos acordos realizados recentemente, a região receberá, nos próximos meses, outros seis navios para demolição.
Confira detalhes das transações e navios:
1 – Karnika, ex-Jalesh Cruises
A primeira vítima da pandemia a ser encalhada em Alang foi o Karnika. Operado pela Jalesh Cruises até março, o navio começou a ser desmontado já em novembro, após carreira de cerca de 30 anos.
Construído para a Princess Cruises nos anos 1990, a embarcação também navegou pela AIDA Cruises, A’Rosa Cruises, Ocean Village e P&O Australia. Desde 2019 vinha operando pela Jalesh, companhia indiana que decretou falência pouco antes da venda para os sucateiros, em outubro.
Com cerca de 70.000 toneladas, o Karnika tinha capacidade para até 2.014 passageiros, além de 245 metros de comprimento. Com aparência incomum, tinha exterior projetado pelo famoso arquiteto italiano Renzo Piano, que concebeu o navio forma similar a de um golfinho.
2 – Ocean Dream, ex-Peace Boat
Encalhado na véspera de Ano Novo, o Ocean Dream foi a segunda vítima da pandemia de COVID-19 a chegar em Alang. Finalizada em 1981, a embarcação vinha sendo operada pela Peace Boat Organization desde 2012 e seguia nos planos da companhia.
No entanto, enquanto aguardava a retomada dos embarques no Japão, acabou sendo substituído. Aproveitando os baixos preços dos navios de segunda mão, a Peace Boat decidiu modernizar a frota comprando um navio quinze anos mais novo.
Primeiro navio construído para a Carnival Cruise Line, o antigo Tropicale teve passagem significativa pelo Brasil no começo dos anos 2000. Navegando pela Costa Crociere, realizou cinco temporadas na região. Depois ainda retornou em 2011, já como Ocean Dream, mas a serviço da Pullmantur.
Para ler mais sobre o navio e sua demolição, clique aqui.
3 – Marco Polo, ex-Cruise & Maritime Voyages
Surpresa na lista de navios a serem demolidos, o antigo Marco Polo chegou a Alang no último dia 9. Operado pela Cruise & Maritime Voyages até o começo deste ano, o veterano navio de cruzeiro foi leiloado no final do ano passado, após sua companhia entrar em recuperação judicial.
Construído em 1965, mas totalmente remodelado nos anos 1990, foi arrematado por cerca de 3 milhões de dólares pela HighSeas Ltd. A empresa havia afirmado que pretendia seguir operando o navio no pós-pandemia, mantendo-o como hotel flutuante enquanto as operações não fossem retomadas.
Após período fundeado em Dubai, a embarcação vinha realizando testes de mar no golfo pérsico nas últimas semanas. No final de dezembro, sem aviso, partiu para Alang, acabando encalhado na primeira quinzena desse mês.
Com capacidade para até 850 passageiros, o Marco Polo era um dos últimos transatlânticos ainda existentes. Construído na União Soviética, realizou rota entre Leningrado, atual São Petersburgo, na Rússia, e Montreal, no Canadá, até meados dos anos 1970.
Depois, nos anos 1990, foi convertido em navio de cruzeiro na Grécia, com a construção de novas áreas públicas e cabines. O casco quebra-gelo e as linhas de navio tradicional, no entanto, foram mantidas. Para ver mais sobre o navio, que esteve no Brasil pela última vez em 2016, clique aqui.
Para ler sobre sua demolição, clique aqui.
4 – Grand Celebration, ex-Bahamas Paradise
Outro navio que chegou aos sucateiros indianos é o Grand Celebration. O antigo navio da Bahamas Paradise foi vendido em meados de novembro, partindo imediatamente das Bahamas, onde estava imobilizado.
Com nome reduzido para Grand e bandeira das ilhas St. Kitts & Nevis, acabou encalhado na primeira quinzena desse mês. A chegada em Bhavnagar, onde está localizada a praia de Alang, ocorreu no último dia 10.
Construído para a Carnival Cruise Line em 1987, o Celebration ficou conhecido no Brasil durante sua operação pela IberoCruceros. Com a bandeira da companhia espanhola realizou seis temporadas na região entre 2008 e 2014.
Neste último ano, acabou vendido para a norte-americana Bahamas Paradise Cruise Line, que o vinha operando entre a Flórida e as Bahamas desde então. Com cerca de 50 mil toneladas, tinha capacidade para até 1.700 passageiros em ocupação máxima.
5 – Magellan, ex-CMV
No final de janeiro, foi a vez do gêmeo do Celebration, o Magellan, chegar aos sucateiros indianos. Conhecido no Brasil por sua operação pela Ibero Cruceros, o antigo Holiday chegou ao distrito de Bhavnagar no último dia 22 e deve ser encalhado em breve.
Com o nome reduzido para Mages e a bandeira alterada para Comoros, a embarcação partiu do Omã no dia 11, em sua última viagem.
Construído nos anos 1980, o antigo Holiday vinha operando pela britânica Cruise & Maritime Voyages com o nome Magellan. Desde 2015, oferecia cruzeiros no mercado inglês, visitando principalmente o Norte Europeu.
Após três meses sem operar por conta da pandemia de COVID-19, a companhia acabou entrando em recuperação judicial em julho do ano passado. Assim, toda a sua frota foi a leilão alguns meses depois.
Assim como seu companheiro de frota Columbus, o Magellan havia sido arrematado pela grega Seajets, empresa comprou um total de cinco navios durante a pandemia. Diferente do restante de suas aquisições, no entanto, o Magellan não seguiu para a Grécia.
Após algumas semanas fundeado no Porto de Duqm, no Omã, o navio acabou sendo revendido para os sucateiros indianos.
6 – Satoshi, ex-Ocean Builders
Outra surpresa na lista de desmanche, o Satoshi deve chegar a Alang em meados de fevereiro. Operado pela P&O Australia até o começo do ano passado, o navio havia sido vendido para empreendedores e estava sendo preparado para ser convertido em um condomínio flutuante.
A ideia da Ocean Builders, que comprou o antigo Pacific Dawn em outubro, era manter a embarcação fundeada em definitivo, a alguns quilômetros da Cidade do Panamá. No local, serviria como uma espécie de comunidade alternativa, com cabines disponíveis para vendas e comércio próprio. Um diferencial era o foco na tecnologia, com a circulação de cryptomoedas e incentivo para a criação no setor.
O leilão dos primeiros lotes de cabines já havia começado, quando a Ocean Builders anunciou que não poderia cumprir a proposta prometida. De acordo com a empresa, a ausência de uma apólice de seguro que cobrisse sua operação a levou a abortar o projeto.
Assim, o navio – que já estava sendo convertido para a nova função no Panamá – acabou sendo vendido mais uma vez. Dessa vez, foi comprado pelos sucateiros indianos e, agora, se prepara para sua última viagem rumo ao desmanche.
Gêmeo do Karnika, que também está sendo desmontado na Índia, o Satoshi tem capacidade para cerca de 2.000 passageiros, além de 70 mil toneladas.
Aliaga já recebeu seis navios
Enquanto isso, os sucateiros de Aliaga já somam seis navios em seus lotes de desmanche. O último navio a ser encalhado na praia turca foi o antigo Astor, que vinha sendo operado pela CMV até a parada do setor em março.
Assim como o Marco Polo, o navio foi leiloado após a falência da companhia, que foi declarada em julho. Construído nos anos 1980, foi comprado pelos sucateiros por cerca de 1,7 milhão de dólares e partiu diretamente da Inglaterra para a Turquia.
Já em fase de desmonte, se juntou aos cinco navios da Carnival Cruise Line e da Pullmantur que já se encontravam nos estaleiros. Sovereign, Monarch, Carnival Fantasy, Carnival Inspiration e Carnival Imagination foram encalhados entre julho e agosto.
Um sétimo navio deve ser começar a ser desmanchado na praia turca em breve. Já na região, o Costa Victoria aguarda para ser encalhado.
Publicado originalmente em 5 de janeiro, às 18h27, e tualizado em 26 de janeiro, às 13h58.
Texto (©) Copyright Daniel Capella / Imagens (©) Copyright Cruise Industry News, Peace Boat, Sergio Ferreira, Ocean Builders e Daniel Capella